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Tsipras começa a desmontar a austeridade

Primeiro-ministro diz que “não tem o direito de desiludir os eleitores” e define as prioridades: pôr fim à crise humanitária e abrir as negociações sobre a dívida. Primeiras medidas são o cumprimento das promessas eleitorais.
Primeira reunião do governo grego. Foto Left.gr
Primeira reunião do governo grego. Foto Left.gr

Ao abrir a primeira reunião do novo governo na manhã desta quarta-feira, o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, começou a demolir a política de austeridade que mergulhou o país numa das maiores crises da sua história. “Vamos prosseguir o nosso plano”, assegurou Tsipras, até porque “não temos o direito de desiludir os nossos eleitores”. A sua intenção, esclareceu, é “fazer uma mudança radical na forma como a política e a administração são conduzidas no país”.

A principal prioridade do governo, definiu, será pôr fim à crise humanitária, mas também abrir as negociações sobre a insustentável dívida. Sobre esta questão, o líder do Syriza afirmou que “não vamos entrar num choque mutuamente destrutivo”, mas assegurou que “não vamos prosseguir uma política de sujeição”.

Fim das privatizações

Antes ainda da reunião do gabinete, os ministros respetivos já tinham anunciado o fim dos planos de privatização da Empresa Pública de Energia (DEH, sigla em grego), do Porto do Pireu e de 14 aeroportos regionais. As 300 mil famílias que tiveram a eletricidade cortada por falta de pagamento, vão recebê-la gratuitamente.

Salário mínimo volta aos 751 euros

Por seu lado, o ministro do Trabalho, Panos Skourletis, anunciou que a subida do salário mínimo para 751 euros será uma das primeiras leis do governo. Era esse o seu valor em fevereiro de 2012, quando, por imposição da troika, foi cortado para 586 euros, com o argumento de “aumentar a competitividade”.

Serão reintegrados todos os funcionários públicos despedidos através de medidas inconstitucionais

O vice-ministro da Reforma Administrativa, Giorgos Katrougalos, disse que serão reintegrados todos os funcionários públicos despedidos através de medidas inconstitucionais, dando como exemplo o famoso caso das mulheres da limpeza do Ministério das Finanças, de professores e de funcionários de escolas.

O ministro da Saúde, Panagiotis Kouroumplis, anunciou que todos os gregos voltarão a ter acesso à saúde pública.

Imigrantes serão legalizados

A vice-ministra da Política de Migração, Tasia Christodoulopoulou, anunciou a aplicação do “jus soli”, afirmando, num programa de rádio, que o Estado dará nacionalidade a todos os filhos dos imigrantes que tenham nascido e crescido no país. “E mesmo àqueles que não nasceram, mas vieram para a Grécia muito novos”.

Yanis Varoufakis sem papas na língua. Foto Left.gr

Ministro das Finanças

Mas o evento mais aguardado do dia era conferência de imprensa de Yanis Varolufakis, o novo ministro das Finanças.

Ao contrário do que fez o primeiro-ministro derrotado Antonis Samaras, que não apareceu para a transmissão da pasta e deixou a sede do governo totalmente vazia – nem a senha do Wi-Fi deixou! – Gikas Hardouvelis veio passar o cargo e desejar felicidades ao seu sucessor.

Segundo o relato da correspondente do Guardian, a cara do já ex-ministro começou a mostrar incredulidade quando Varoufakis, sem papas na língua, demoliu a filosofia da austeridade, que definiu como “um erro altamente tóxico que foi cometido neste mesmo edifício”.

O professor de economia disse que não é preciso ser-se economista para perceber que a lógica da austeridade só podia fracassar.

Varoufakis anunciou que a sua intenção é dar um “reboot” às economias não só da Grécia, como de todo o continente, e que tentará fazer um New Deal pan-europeu. Para pôr a cereja no topo do bolo, disse que ia dispensar assessores e consultores que recebem altos salários e contratar as mulheres da limpeza, em luta há quase um ano.

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