Trabalhadores dos call-centers continuam desprotegidos face ao Covid-19

18 de março 2020 - 21:36

Apesar dos empregadores serem responsáveis por assegurar as condições de saúde e higiene nos locais de trabalho, muitas empresas não estão a respeitar os planos de contingência e recusam-se a adotar o teletrabalho como regra.

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Trabalhadores do call-center
Foto tirada nos últimos dias na sala de trabalho de um dos call-centers do Porto.

Salas cheias de pessoas a trabalhar lado a lado, com pouca ou nenhuma circulação de ar e sem material para desinfetar teclados, ratos, auriculares e computadores. Esta é a situação em muitos call centers do país, segundo os testemunhos que têm chegado ao esquerda.net.
 
No Edifício Tranquilidade, no Porto, trabalham centenas de pessoas para a Action Portugal, que presta serviço a várias plataformas digitais como a Airbnb. No quinto piso foi confirmado um teste positivo ao Covid-19 e vários casos suspeitos, o que naturalmente gerou grande alarme. Segundo o testemunho de um trabalhador, a empresa evacuou esse piso, colocando os trabalhadores em regime de teletrabalho, mas manteve a laboração no piso inferior.

A passagem ao teletrabalho é uma reivindicação da maioria dos trabalhadores dos call-centers face ao cenário de crise pandémica, mas muitas empresas continuam a resistir a uma medida que ajudaria a travar as cadeias de contágio. Por exemplo, na Armatis, que trabalha para a Bouygues Telecom, as janelas estão fechadas e o ar não circula, enquanto a distância entre trabalhadores é a que se pode ver na foto.

A Altice é uma das principais empregadoras diretas e indiretas de trabalhadores nas várias linhas de ajuda telefónica e online para os seus serviços. No call center da Rua Tenente Valadim, no Porto, os trabalhadores externos continuam a apresentar-se ao trabalho e só na passada sexta-feira apareceu um desinfetante para as mãos. Em Santo Tirso, a Altice usa o call center da Intelcia, com 200 trabalhadores. Aqui, apesar de algumas linhas já terem sido postas em teletrabalho, a linha que emprega mais gente mantém-se no edifício. E em Coimbra, para os 400 trabalhadores da Intelcia, o teletrabalho também é ainda uma miragem, à semelhança dos produtos de limpeza.

No edifício da Altice no Areeiro, em Lisboa, são os trabalhadores que levam o seu desinfetante, enquanto o teletrabalho é aplicado a conta-gotas. Em Beja, no call center da Randstad para Altice, o teletrabalho ainda não é uma hipótese e os trabalhadores ficam lado a lado nas horas de maior pico de chamadas. Também aqui, a limpeza não tem sido reforçada e o desinfetante só se encontra à entrada do edifício.

Entre os trabalhadores cresce a indignação por verem que serviços não essenciais como linhas de retenção de clientes ou de vendas não possam ser suspensos de imediato. E também a suspeita de que as empresas estejam a aguentar os funcionários nos locais de trabalho, com risco para a sua saúde, com vista à possibilidade de usarem o layout e pouparem assim ainda mais no salário pago a quem trabalha.

“A vida antes dos lucros!”: STCC marcou greve de 24 de março a 5 de abril

O Sindicato dos Trabalhadores dos Call Centers marcou uma greve de 24 de março a 5 de abril  para todo o sector, de forma a exigir a transição de todo o trabalho em Call-Center para o regime de Teletrabalho.

O Sindicato exige que, “de imediato, todas as atividades não imprescindíveis em Call-Center cessem, ficando os trabalhadores de quarentena, sem perda de rendimentos, a aguardar que as Entidades Patronais efetuem a transição para o Regime de Teletrabalho”.

Após o anúncio da proposta de decretar o estado de emergência em Portugal, que limita o direito à greve, o sindicato já afirmou que vai manter o pré-aviso de greve.