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Trabalhadores da Kyaia manifestaram-se em Paredes de Coura

O protesto deste sábado foi mais um passo na luta contra a imposição do aumento do horário de trabalho sem retribuição por parte do maior grupo português de calçado. Arménio Carlos aconselhou Fortunato Frederico a "não esquecer as suas origens".
Concentração de trabalhadores da Kyaia em Paredes de Coura este sábado. Foto Arménio Belo/Lusa

O grupo Kyaia decidiu impor unilateralmente duas pausas diárias de dez minutos ao horário dos trabalhadores sem o correspondente aumento salarial. Muitos trabalhadores não aceitaram a medida e continuaram a cumprir as oito horas de trabalho. No fim de dezembro, chegou a folha salarial com um corte correspondente aos 20 minutos por dia — 4% do seu salário — e a indignação tem aumentado nas últimas semanas.

“Estamos a cumprir o horário que fazíamos até agora e estão-nos a ser descontados os 20 minutos” confirmou uma trabalhadora da empresa no protesto organizado pela CGTP em Paredes de Coura. Para os trabalhadores da Kyaya, “está fora de questão: se fazemos oito horas, temos de receber as oito horas!”, resumiu a trabalhadora à TVI24.

“Se a empresa entende que são benéficas e devem existir, deve assumir a introdução das pausas como tempo efetivo de trabalho e não acrescer ao horário de trabalho — ao final do dia, 20 minutos — para que os trabalhadores paguem o descanso que é necessário e tem resultados positivos para a empresa”, afirmou por seu lado Isabel Tavares, coordenadora da FESETE - Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores Têxteis, Lanifícios, Vestuário, Calçado e Peles de Portugal.

“É vergonhoso que uma empresa e um setor que tem crescido exponencialmente nos últimos anos explore os trabalhadores desta maneira”, acrescentou a coordenadora da FESETE, concluindo que o objetivo da empresa é “explorar os trabalhadores e diminuir o rendimento ao fim do mês”.

Arménio Carlos aconselha Fortunato Frederico a "não esquecer as suas origens"

A manifestação que se seguiu contou com a presença de Arménio Carlos. O líder da CGTP afirmou à Rádio Vale do Minho que “esta postura do administrador da Kyaia não faz sentido” e que nem governo nem a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) “podem ficar indiferentes a uma situação que é ilegal”.

“Esta é uma situação inadmissível, considerando que neste momento a entidade patronal quer pôr os trabalhadores a trabalhar demais e a receber de menos!”, resumiu Arménio Carlos, antes de deixar um conselho ao patrão do grupo que emprega mais de 600 trabalhadores e detém marcas como a Fly London: “Ficaria bem ao Sr. Fortunato, que foi um homem que veio de baixo e que subiu a pulso, não esquecer as suas origens e respeitar os trabalhadores ao seu serviço”.

Fortunato Frederico é o maior industrial do calçado em Portugal, com as suas cinco fábricas e 70 lojas. A aquisição da marca Fly London em 1994 catapultou os negócios deste empresário, tornando-a na marca portuguesa de calçado mais vendida no mundo. Nas entrevistas concedidas nos últimos anos, Fortunato Frederico relembra sempre a infância pobre e o início da vida laboral aos 14 anos a varrer o chão da fábrica.

Numa dessas entrevistas, em 2011 ao Dinheiro Vivo, comentando a medida do governo de Passos Coelho para aumentar em meia hora por dia o horário de trabalho no setor privado, o empresário defendeu que esse aumento devia ser de uma hora para as empresas aumentarem o dobro em competitividade.

Face à contestação pela imposição do aumento do horário e trabalho nas suas fábricas, Fortunato Frederico disse esta semaa ao Jornal de Negócios que está "de consciência tranquila" e "a cumprir a lei". Ausente do país em viagem de negócios à China, o empresário deixou mais explicações para o seu regresso a Portugal na próxima semana.  "O importante é a gente manter a empresa a trabalhar e a pagar direitinho, como sempre fez, e a compensar os trabalhadores quando a empresa tem lucros", rematou.

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