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SVB: o que levou à maior falência bancária desde 2008?

Os últimos dias estão a ser marcados pelo colapso do Silicon Valley Bank (SVB). Sediado na Califórnia, este era até há dias o 16º maior banco dos EUA em termos de ativos, com um total de 209 mil milhões de dólares em ativos sob gestão. A maioria dos seus clientes eram empresas do setor tecnológico, como a Shopify e o Pinterest.
No espaço de dois dias, devido à retirada massiva de fundos pelos clientes e à incapacidade de financiamento, o SBV acabou liquidado pela agência Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC).
Esta é a maior falência bancária desde a crise financeira de 2008 em termos de dimensão de ativos. Em setembro de 2008 deu-se a falência do HBOS (Reino Unido), que geria 762 mil milhões de euros, e do Washington Mutual (EUA) com um total de ativos de 288 mil milhões de euros. Agora, o SVB com um total de 196 mil milhões de euros.
A subida acentuada das taxas de juro está na origem da falência
Como salienta a agência Reuters, a génese do colapso do SVB é o ambiente de crescentes taxas de juro que levaram a uma retirada dos depósitos dos clientes, que se pode dividir em duas fases.
Num primeiro momento, os clientes levantaram gradualmente dinheiro por necessidade de liquidez no contexto de recessão económica. Ao mesmo tempo, a subida dos juros diretores desincentivou os investimentos de risco, base dos negócios das startups (principais clientes do SVB), e penalizou em bolsa o setor.
Na passada quinta-feira, para recuperar parcialmente esses fundos perdidos, o SVB Financial Group, a casa-mãe, vendeu uma carteira largamente composta por Obrigações do Tesouro (OT) dos EUA. Contudo, visto que a carteira estava a render uma média de 1,79% ao ano, valor contratualizado aquando da compra, e que os atuais juros estão a 3,9% pagos pelas OT a 10 anos, o SVB teve que reconhecer uma perda de 1,8 mil milhões.
Para além disso, o SBV comprou o ano passado 80 mil milhões de dólares em títulos garantidos por crédito hipotecário, entretanto severamente penalizados também pela subida dos juros e aumento do malparado.
Com o conhecimento público da perda, os clientes correram a levantar os seus depósitos num segundo momento.
Nesse dia, a cotação do SVB caiu mais de 60% em bolsa, com cada vez maiores receios que os investidores continuassem o ciclo de levantamentos e aumentasse mais a necessidade de capital.
Governo de Biden promete maior regulação bancária
Até ao final do ano passado, o SVB geria aproximadamente 209 mil milhões de dólares em ativos e detia 175,4 mil milhões em depósitos, dos quais 89% não estavam devidamente cobertos, segundo a FDIC.
Com este cenário de queda acelerada, e sem uma alternativa fiável de financiamento, a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) anunciou na sexta-feira o fecho do SVB, tornando-se a sua liquidatária. A agência norte-americana para a proteção dos depósitos garante a cobertura dos depósitos até 250 mil dólares, sendo na altura desconhecida a recuperação do restante capital para os clientes.
No final de domingo, a Reserva Federal anunciou em comunicado conjunto com o Departamento do Tesouro e a FDIC, estar “preparada para lidar com quaisquer pressões de liquidez que possam surgir” de forma a proteger “todos os depositantes, tanto os garantidos [até aos 250 mil dólares] como os não garantidos”.
O programa concede aos bancos empréstimos até um ano, com a condicionante de terem no seu ativo títulos do Tesouro dos Estados Unidos, dívida pública ou outros ativos que possam ser dados como colateral. A ideia é evitar vendas de carteiras de títulos sob pressão e com descontos avultados, o que comprometeria ainda mais a situação financeira.
Também nesse comunicado, o governo avançou com o encerramento do Signature Bank por possíveis riscos de contágio sistémico.
Esta segunda-feira, em conferência de imprensa, o presidente Joe Biden assegurou que "todos os clientes que tinham depósitos nestes bancos podem estar seguros, podem estar descansados. Estão protegidos e podem ter acesso ao seu dinheiro a partir de hoje. Isso inclui as pequenas e médias empresas que precisem do dinheiro para pagar os salários aos seus funcionários e as suas contas”.
Para além disso, prometeu uma maior regulação bancária e uma investigação sobre os culpados da falência. “Já pedi aos reguladores e ao Congresso para reforçarem as normas bancárias, para que seja menos provável que este tipo de episódios volte a acontecer”, acrescentou o presidente dos EUA.
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