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Suspensão dos cuidados de saúde presenciais durou tempo a mais e teve graves consequências
Os atrasos no reagendamento dos cuidados de saúde após a sua suspensão, interrupção dos cuidados domiciliares e paliativos, medo de deslocação aos serviços de saúde por pessoas com doenças crónicas ou graves, não inclusão das associações de doentes nos debates sobre como responder à pandemia. Tudo isto é alvo de crítica no documento de reflexão recentemente divulgado pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS).
O documento de análise à resposta que o país deu à pandemia de covid-19 nos últimos oito meses afirma que a suspensão dos cuidados de saúde presenciais se justificou numa fase inicial de alarme, mas que durou demasiado tempo e que isso pode ter resultado em grandes consequências na saúde da população.
"A demora no reagendamento de cuidados de saúde e a ausência de comunicação específica dirigida às pessoas com doença não só não foram compreendidas pelas pessoas afetadas, como poderão ter um impacto não negligenciável na saúde a curto, médio e longo prazo", afirma o documento de 16 páginas disponível na página oficial do órgão consultivo do governo para a área da saúde, citado pelo Diário de Notícias e agência Lusa.
No período entre 1 de março e 22 de abril registou-se um excesso de mortalidade, estimado entre 2.400 e 4.000 óbitos, “três a cinco vezes superior ao explicado pelas mortes por covid-19 reportadas oficialmente”, lembra o documento.
"Pressente-se assim que muitas pessoas com doenças agudas ou crónicas graves possam não ter procurado o sistema de saúde por receio de serem contaminadas, ou não terem encontrado nele as respostas necessárias", afirma.
Também a interrupção dos cuidados domiciliários e paliativos e às diversas terapias de reabilitação é alvo de críticas. Para o CNS, esta interrupção, que em alguns casos ainda se mantém, “acarreta consequências graves” para a “saúde e qualidade de vida” das pessoas com doença.
No documento, este ponto serve como ligação também para a ausência de envolvimento das associações de doentes nas reuniões onde se discutiram as decisões para controlar a pandemia em Portugal. Os especialistas consideram que isto transforma os representantes das pessoas com doença em simples "destinatários dos cuidados de saúde”.
O CNS lembra ainda que ainda nada foi feito para “organizar e ouvir os doentes que contraíram a infeção. Descrever e estudar os seus percursos é o mínimo que se exige para pensar intervenções com base em conhecimento", acrescentam no documento.
Na reflexão sobre a resposta de Portugal à pandemia, o Conselho Nacional de Saúde diz que a pandemia "veio colocar à vista várias fragilidades do sistema de saúde" e "tornou ainda mais óbvia a insuficiência de recursos humanos e materiais" e uma "importante desigualdade no acesso aos cuidados de saúde, tanto geográfica como socioeconómica”.
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