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Suécia retira apoio à independência do Sahara para beneficiar o Ikea

Em setembro de 2015, Marrocos bloqueou a abertura da nova loja do Ikea em Casablanca, após o parlamento sueco ter votado favoravelmente o reconhecimento da República Árabe Saharaui Democrática. Agora, na véspera da visita do presidente do parlamento marroquino, o Governo sueco simplesmente recuou na decisão.

Este fim-de-semana, a Suécia anunciou que deixou de apoiar a independência do Sahara Ocidental, uma decisão decorrente do relatório apresentado pelo embaixador sueco na Tunísia e Líbia, Fredrik Floren, que foi enviado para o Ministério das Relações Exteriores, propondo uma revisão da estratégia política em relação a este país.

"O documento mostra que os critérios exigidos pela lei internacional para o reconhecimento da República Árabe Saharaui Democrática não estão cumpridos", disse então a Ministra das Relações Exteriores sueca, Margot Wallström, num comunicado citado pela imprensa internacional.

Segundo o Publico.es, embora a tutela se refira a razões jurídicas no fundamento da decisão, o jornal marroquino de grande influência «Le360» alega que os motivos são muito mais económicos do que legalistas, considerando o que aconteceu em setembro de 2015, no encalço do anúncio público do apoio da Suécia à independência do Sahara ocidental. Na altura, as autoridades marroquinas bloquearam a abertura de uma loja Ikea perto de Casablanca, nos arredores de Mohammedia.

"O atual Governo entrou em conflito diplomático com a Arábia Saudita e Israel. Não podemos permitir-nos a um terceiro conflito com um país importante", afirmou Margot Wallström na televisão sueca. "O impacto de Marrocos no mundo árabe é considerável e a Suécia precisa do apoio dos países árabes para manter o seu lugar no Conselho de Segurança [ONU]", acrescentou.

Toda a energia será concentrada “em apoiar" o processo de mediação entre as duas partes levado a cabo pela ONU e "o reconhecimento não iria ajudar nesse processo", além de que "a situação no Sahara Ocidental difere da de outros Estados que a Suécia reconheceu no passado", declarou ainda a Ministra, segundo a qual a decisão divulgada na sexta-feira passada reforça "a avaliação de governos anteriores nesta matéria".

Inversão de marcha a favor de quem?

Para a esquerda sueca, o não reconhecimento marca uma inversão de marcha. Quando os sociais-democratas estavam na oposição, em dezembro de 2012, votaram a favor de uma moção solicitando ao governo "que reconhecesse o Sahara Ocidental como um Estado livre e independente" e trabalhasse rumo a esse objetivo, inclusivamente dentro da União Europeia, o que o governo de então recusou.

Apesar de terem assumido o governo em outubro de 2014, numa coligação com os Verdes, que também apoiaram o movimento por um Sahara independente, os sociais-democratas hesitaram agora em ser o primeiro país da UE a reconhecer a independência do território disputado.

A relação estreita entre “a questão Ikea” em Marrocos e a atual decisão de Estocolmo é apontada como a mais provável para se compreender o sucedido, e está já a ser criticada politicamente e juridicamente.

Um outro dado importante é que na próxima semana, segundo anunciou a televisão sueca, o Presidente do Parlamento marroquino, Rachid Talbi Alami, visitará oficialmente o país. A Ministra Margot Wallström informou por fim que, durante a sua visita, Alami irá ser “oficialmente informado da decisão da Suécia" que assim recuou no apoio à independência do Sahara Ocidental, em luta contra a ocupação por Marrocos desde 1975.

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