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SNS: falta de investimento obriga hospitais a alugar equipamento a privados

Falta de investimento público no SNS está a impedir a modernização de equipamentos e infraestruturas. Nalguns casos, os hospitais são obrigados a subalugar equipamentos a privados.

Máquinas usadas até avariarem sem reparação, monitores de sinais de vida obsoletos, blocos operatórios sem iluminação adequada — eis um retrato de falta de renovação dos hospitais públicos feito por médicos e administradores hospitalares ao Diário de Notícias.

O SNS é um caso de sucesso na promoção da saúde pública em Portugal desde a sua fundação, mas sofre de falta de investimento há uma década, a que se soma o desvio de recursos para os privados através de esquemas como as PPPs. Os efeitos desse desinvestimento sentem-se nos hospitais.

Alexandre Lourenço, presidente de Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, afirmou ao DN que a falta de investimento se sente desde 2009, resultando em tecnologia que "está em risco de obsolescência, porque a atualização não é feita". Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, acrescenta que os equipamentos médicos têm normalmente um plano de amortização a 10 anos, mas são usados muito para além disso. O problema é transversal a departamentos e hospitais, mas é mais agudo na imagiologia, gastrologia e nos serviços de urgência.

Com equipamento hospitalar a chegar ao fim de vida e sem financiamento público para o substituir a tempo, os hospitais públicos vêm-se mesmo compelidos a subalugar equipamentos aos privados.

A idade e sobrelotação das instalações hospitalares é outro problema, reconhecível em imagens familiares — corredores apinhados de camas, doentes à espera em pé ou sentados no chão, "gabinetes" improvisados de pladur ou em contentores.

A acumulação destes problemas leva ao desgaste e desmoralização entre médicos, estimulando a fuga uma fuga para os privados — mais nitidamente nas áreas de imagiologia, neurologia e cardiologia, segundo Alexandre Lourenço.

O responsável dos administradores hospitalares aponta como solução parcial para o problema da obsolescência uma transformação do modelo de contratação: "Já há parcerias com os próprios fornecedores que nos permitiam fazer um investimento diluído ao longo do tempo, fazendo contratos que obriguem o próprio fornecedor a fazer atualizações no equipamento durante o tempo do contrato" afirmou ao DN.

Mas apenas a recuperação do investimento público poderá resolver efetivamente o problema, com uma modernização adequada dos hospitais públicos. Mas está longe ainda de ser realidade. Segundo contas do Ministério da Saúde reveladas em dezembro passado pela ministra Marta Temido, é necessário investir mil milhões de euros nos próximos três anos para modernização de investimentos e infraestruturas nos hospitais, dos quais 500 milhões são considerados prioritários. Na quinta-feira passada, o Conselho de Ministros aprovou um investimento até 2021 de apenas 91 milhões de euros, 10% do que seria necessário.

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