Os dados do Portal do SNS divulgados este domingo pelo Público confirmam a inversão da tendência registada em 2020, quando a despesa para os cofres públicos com análises e exames convencionados com o setor privado tinha baixado para os 442 milhões de euros.
Em 2021, essa despesa aumentou 61,8%, muito por causa da generalização dos testes à covid-19 e à recuperação da atividade hospitalar. As análises clínicas, que incluem os testes PCR, representaram 53% dos 714 milhões de euros entregues pelo Estado aos privados.
Com exceção de 2020, a despesa do Estado com meios complementares de diagnóstico e terapêutica no privado tem vindo sempre a aumentar desde 2014, ano em que se gastaram 373 milhões de euros. Em 2021, só o valor gasto na parcela das análises clínicas no privado - 377 milhões - ultrapassou a soma total de 2014. Para este ano, o Orçamento do Estado apresentado pelo Governo prevê que essa fatura diminua 40 milhões, tendo em conta o reforço da capacidade de testagem no SNS e a sua previsível diminuição após o fim da obrigatoriedade de apresentação de testes. Outros 18 milhões poderão ser poupados se houver acordo com as associações de análises clínicas, radiologia e diálise para um desconto nos preços praticados.
"O SNS tem de ser capaz de fazer todos os serviços que deve fazer"
O aumento da fatura paga aos privados é um reflexo da desorçamentação crónica no SNS. No livro "O Negócio da Saúde", lançado no ano passado pelo médico Bruno Maia, o autor defende que "quebrar este círculo vicioso faz-se em primeiro lugar com um processo de internalização dos serviços que estão a ser contratados aos privados".
"Claro que é preciso dinheiro, mas mais do que isso é preciso uma estratégia para contratar profissionais e o material necessário para se fazer no SNS aquilo que se paga mais caro no setor privado. O objetivo tem de ser externalização zero. O SNS tem de ser capaz de fazer todos os serviços que deve fazer", sublinha o médico neurologista.