Esta segunda-feira, numa reunião geral depois de voltarem de férias, os trabalhadores de uma fábrica da Siemens Gamesa em Portugal ficaram a saber que estava em marcha um processo de despedimento coletivo de 222 pessoas.
A notícia foi avançada por vários jornais locais, entre os quais o Diário de Aveiro que escreve que “em causa estão trabalhadores com dois, cinco, dez ou mesmo 15 anos de casa e todos foram apanhados de surpresa”.
A Siemens Gamesa integra a multinacional alemã Siemens Energy. Em 2020, esta empresa comprou a fábrica situada no Parque Industrial de Sosa, em Vagos, Aveiro, que tinha sido fundada em 2009 com o nome de Ria Blades, ao grupo Senvion, apostando no reforço do fabrico de pás eólicas. Chegou a empregar mais de mil trabalhadores, de acordo com a rádio Terranova.
Pouco mais de quatro anos volvidos, o despedimento coletivo é justificado por falta de encomendas e “baixa de produção”. Fala-se ainda numa estratégia de reestruturação global de uma empresa que tinha anunciado antes “cortes significativos no setor eólico devido a desafios financeiros e operacionais”.
Em maio de 2024, o Jornal Económico titulava que a “Siemens Energy dispara em bolsa após lucros e mudança de CEO da Gamesa”. Na altura, esperavam-se prejuízos de 30 milhões de euros mas a empresa anunciou lucros de 108 milhões de euros no primeiro trimestre do ano passado. Escrevia-se ainda que “a empresa quer fazer alguns ajustes nos quadros, pretendo focar-se num plano a longo prazo para crescer de forma rentável no negócio eólico”.
Apoios públicos, lucros privados
A página governamental “Compete 2030”, pouco depois, em julho, anunciava que a Siemens Gamesa “fortalece liderança no mercado de energias renováveis com aumento de produção de pás eólicas para torres onshore de grandes dimensões”.
Recorde-se que o Programa Compete diz respeito ao Programa Operacional Competitividade e Internacionalização, utilizando-se Fundos Europeus Estruturais e de Investimento.
Referia-se especificamente à fábrica de Vagos para dizer que o apoio do “Compete 2020” “aumentou a sua capacidade produtiva” com um projeto que “visa a instalação de novas linhas produtivas e a implementação de tecnologias avançadas, permitindo a produção de pás eólicas inovadoras de 76 e 83 metros para torres onshore de grandes dimensões, com capacidades entre 5,8 MW e 6,6 MW”.
O objetivo seria “reforçar a posição da Siemens Gamesa no mercado global de energias renováveis, promovendo a eficiência e a redução dos custos de produção e transporte”. Esta página governamental citava José Costa, diretor financeiro na Siemens Gamesa Renewable Energy Blades S.A., que dizia que “a Siemens Gamesa Vagos está integrada num dos maiores fabricantes mundiais da indústria eólica. Com mais de 130 GW instalados globalmente, mantém uma posição de liderança nos mercados onshore, offshore e serviços. A Siemens Gamesa instala parques eólicos em todo o mundo e conta com uma força de trabalho de mais de 29.000 colaboradores globalmente”.
O tom publicitário seguia no texto em que se afirmava que “a indústria renovável é um dos setores com maior potencial de crescimento, impulsionado pelas metas ambiciosas da maioria dos governos em relação à capacidade de energia renovável e às metas de descarbonização. A energia renovável é agora mais importante do que nunca. A instabilidade sociopolítica mundial atual e as suas consequências, como a subida dos preços da energia, destacam a relevância das energias renováveis, não só para apoiar a transição verde, mas também para aumentar a segurança do fornecimento de energia e reduzir o seu custo”. Era neste “contexto de crescente relevância e expansão das energias renováveis” que seria suposto a fábrica da Siemens Gamesa em Vagos desempenhar “um papel crucial como fabricante de pás eólicas”, vincando-se que esta “consegue transportar pás de grande dimensão de forma ágil e logisticamente eficiente”, o que seria “uma vantagem substancial para o negócio”.
Gaba-se a sua “competitividade e liderança no mercado global” e considera-se “a fábrica de Vagos um modelo de inovação e eficiência na indústria eólica”.
Numa nota final escreve-se que “o projeto Windturbine 5.X Blades contou com o apoio do COMPETE 2020 no âmbito do Sistemas de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico, na vertente em copromoção, envolvendo um investimento elegível de 34,9 milhões de euros o que resultou num incentivo de 5,2 mil milhões de euros”. Na verdade, trata-se de um erro de redação, pois o incentivo foi de 5, 2 milhões de euros