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Seca severa que afeta a Europa continua a agravar-se

Com 45% do território da União Europeia em aviso de seca e 15% sob alerta, o The Guardian traça um retrato daquilo que poderá ser “o novo normal”. O jornal retrata ainda este flagelo através de fotos impressionantes, em que Portugal também merece destaque.
Foto de Modern Event Preparedness, Flickr.

Num artigo datado desta segunda-feira, o The Guardian escreve que o Observatório Europeu da Seca da UE calculou que 45% do território estava sob alerta de seca em meados de julho, com 15% já em alerta vermelho, levando a Comissão Europeia a alertar para uma situação “crítica” em várias regiões. E as condições têm-se agravado à medida que repetidas ondas de calor que assolam o continente.

A seca mais severa da Europa em décadas está a ter já efeitos devastadores, atingindo casas, fábricas, campos agrícolas, florestas em todo o continente. Especialistas alertam que invernos mais secos e verões escaldantes alimentados pelo aquecimento global significam que a escassez de água se tornará “o novo normal”.

França: pior seca desde, pelo menos, 1958

Em França, a primeira-ministra, Élisabeth Borne, ativou na semana passada uma unidade de crise para combater uma seca que o Météo-France descreve como sendo a pior do país desde que há registos. Ou seja, desde 1958. Mais de 100 municípios franceses não têm água potável canalizada e estão a ser abastecidos por camiões.

Christophe Béchu, ministro da transição verde, sublinhou que os franceses vão ter de se “acostumar com episódios desse tipo” e que a “adaptação não é mais uma opção, é uma obrigação”.

Atualmente, com a humidade da superfície do solo a ser a mais baixa já registada e as chuvas de julho 85% mais baixas do que o normal, já estão em vigor restrições de água em 93 dos 96 departamentos continentais do país, com 62 classificados como “em crise”.

O ministro da Agricultura da França também já assinalou que a colheita de milho provavelmente será mais de 18% menor do que no ano passado, e os sindicatos dos agricultores alertaram que a escassez de alimento para o gado como resultado da seca pode levar a escassez de leite no outono e inverno.

A concessionária de eletricidade EDF foi forçada na semana passada a reduzir a produção de um de seus reatores nucleares no sudoeste da França por causa das altas temperaturas da água no rio Garonne, e emitiu vários avisos semelhantes para reatores ao longo do Rhône.

Espanha: reservas de água da Espanha em mínimo histórico de 40%

As reservas de água de Espanha estão no mínimo histórico de 40% e têm vindo a cair a uma taxa de 1,5% por semana. O país vizinho registou menos da metade das chuvas esperadas para a época do ano nos últimos três meses.

Catalunha, Galiza, o oeste da Extremadura e a Andaluzia, já contam com restrições no consumo de água, a maioria das quais foi imposta aos consumidores domésticos.

Nuria Hernández-Mora, cofundadora da Fundação Nova Cultura da Água aponta que “estudos sobre alterações climáticas alertam que as secas serão mais intensas, mais frequentes e mais longas”. “Este será o novo normal e, no entanto, continuamos a aprovar o aumento da utilização de um recurso que não temos e que se está tornar mais escasso”.

Itália: governo declarou uma emergência de seca em cinco regiões do norte

A vazão do Rio Pó diminui para um décimo do valor usual e o nível da água está 2 metros abaixo do normal.

O governo italiano já declarou emergência de seca em cinco regiões do norte, começando a racionar água potável no início de julho.

As aldeias ao redor do Lago Maggiore estão a ser abastecidas por camiões.

A seca está a ameaçar a produção de arroz risoto no vale do Pó, que responde por cerca de 40% da produção agrícola da Itália. Os produtores alertaram que até 60% da colheita pode ser perdida à medida que os arrozais secam e ficam salgados, com níveis recordes de baixa água a permitir a existência de mais água do mar no delta.

“Não sei mais o que precisamos fazer para tornar a crise climática um tema político”, afirmou Luca Mercalli, presidente da Sociedade Meteorológica Italiana.

“Nenhum dado semelhante nos últimos 230 anos se compara com a seca e o calor que estamos a enfrentar este ano. Depois tivemos tempestades... Esses episódios estão a crescer em frequência e intensidade, exatamente como previsto pelos relatórios climáticos nos últimos 30 anos. Por que continuamos à espera para fazer disso uma prioridade?”, questionou.

Alemanha: seca põe em causa circulação de navios

Os níveis de água caíram para níveis perigosos no Reno, uma via navegável vital do noroeste da Europa, utilizada para transportar petróleo, gasolina, carvão e outras matérias-primas que liga o centro industrial da Alemanha aos principais portos de Roterdão e Antuérpia. Alguns navios estão a circular com 25% da capacidade para evitar ficarem encalhados e os carregamentos de carvão para as centrais de energia que o chanceler, Olaf Scholz, reativou estão comprometidos.

Na capital, Berlim, muitos lagos alimentados pelo rio Spree registam níveis de água reduzidos. Na cidade de Nuremberg, no sul, árvores urbanas secas estão a ser regadas por piscinas cobertas municipais.

Suíça: indústria de laticínios foi a mais atingida

As autoridades de Friburgo, Jura e Neuchâtel viram-se obrigadas a abrir prados de vale que normalmente não são usados ​​para pastagem até setembro, já que as pastagens mais altas das montanhas já estavam muito secas.

Dominique de Buman, presidente da cooperativa de fabricação de queijos de Friburgo, afirmou, em declarações ao jornal le Temps, que a produção de queijo e leite provavelmente será afetada.

No cantão de Obwalden, perto de Lucerna, o exército teve de ser chamado para transportar água de helicóptero do Lago Sarnen para as vacas sedentas na aldeia de Kerns.

Holanda declarou escassez oficial de água e Bélgica tem o julho mais seco desde 1885

A Holanda declarou uma escassez oficial de água na semana passada. O governo ainda não introduziu restrições ao consumo doméstico, mas pediu às pessoas para evitarem gastos excessivos.

A Bélgica viu-se confrontada, por sua vez, com o julho mais seco desde 1885. Os níveis das águas subterrâneas na Flandres são excecionalmente baixos e pôem em risco a vida selvagem. A situação de canais e rios também é problemática, com a morte de inúmeros peixes.

O The Guardian lembra que cientistas têm vindo a defender que o colapso climático pode em breve fazer com que as secas de verão se tornem frequentes na Europa Ocidental, com eventos extremos de calor que ocorreram uma vez por década a passarem a acontecer a cada dois ou três anos, a menos que governos de todo o mundo cortem radicalmente as emissões de carbono.

Guardian retrata pior seca de todos os tempos na Europa em fotos impressionantes

Noutra publicação, o jornal britânico retrata a pior seca de todos os tempos na Europa em fotos impressionantes. Portugal também consta desta fotogaleria, com uma imagem do Casal da Quinta, onde um popular recorre a um galho de árvore para tentar evitar que um incêndio florestal atinja as casas. Na legenda é referido que centenas de bombeiros combateram os incêndios que obrigaram à evacuação de dezenas de pessoas das suas casas em aldeias de Santarém, Leiria e Pombal. Noutra imagem surge uma floresta queimada em 2018, em Monchique.

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