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Seca: 500 mil litros de água de comboio para Viseu por dia

A partir da próxima semana, deverão ser transportados por comboio para Viseu mais de 500 mil litros de água por dia, devido à seca, que segundo o presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável é provavelmente “das piores dos últimos 100 anos”.
Barragem de Fagilde está neste momento com 360 mil m3, ou seja, "cerca de 10,5% da sua capacidade"
Barragem de Fagilde está neste momento com 360 mil m3, ou seja, "cerca de 10,5% da sua capacidade"

O presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques, anunciou nesta quinta-feira, 9 de novembro, o transporte da água por comboio para Viseu.

"Está a ser preparada a possibilidade de vir um comboio com água, diário, durante a noite, que descarregaria em Mangualde, com capacidade de mais ou menos 500 metros cúbicos (m3) por dia. Estamos a monitorizar diariamente, mas diria que é convenientemente que na próxima semana este transporte já esteja a ser assegurado", anunciou Almeida Henriques à agência Lusa.

O autarca salienta que a Barragem de Fagilde está neste momento com 360 mil m3, ou seja, "cerca de 10,5% da sua capacidade" e refere: "Já conseguimos reduzir bastante os consumos destes quatro concelhos [Viseu, Nelas, Penalva do Castelo e Mangualde] e a população está a responder bem. Mas a reserva da barragem só dá para mais 20 a 25 dias".

Nos últimos dias a Câmara de Viseu transportou diariamente água em camiões cisterna e procuram outras possibilidades de abastecimento. Almeida Henriques diz que os quatro municípios estão "lançar mão de tudo o que esteja ao alcance para garantir que não falta a água, com qualidade, na casa das pessoas".

"Desde que começámos este processo, a Câmara de Viseu já gastou 200 mil euros no abastecimento de água às pessoas. Esta é uma operação cara, que não vai ter qualquer impacto na fatura das pessoas, mas precisamos que o Governo nos ajude", apontou o autarca, considerando que se trata de "uma situação de emergência” e que "os quatro concelhos que estão com esta dificuldade não têm capacidade para aguentar este nível de despesa para fazer face a estas necessidades".

"Este fundo disponibilizado [pelo Governo] de 250 mil euros será manifestamente insuficiente para fazer face a isto, até porque a perspetiva é de que não vamos ter chuva nos próximos dez dias. E mesmo que tenhamos, ela não terá um impacto imediato na Barragem de Fagilde", alertou ainda o autarca.

A atual seca é provavelmente “das piores dos últimos 100 anos”

Filipe Duarte Santos, especialista em alterações climáticas, professor jubilado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS), disse à Lusa que as secas se tornaram mais frequentes e prolongadas em Portugal e defende que é necessário investir em energias renováveis.

O presidente do CNADS diz que quando se comparam dois períodos de 30 anos anteriores ao presente (desde 1960) verifica-se uma queda da precipitação média anual na Península Ibérica.

“No caso de Portugal a diminuição é da ordem dos 40 milímetros por década e isso é um número significativo, ou seja, 200 milímetros de chuva em meio século, cerca de 20 centímetros de água”, indicou o professor.

Filipe Duarte Santos diz que a atual seca é provavelmente “das piores dos últimos 100 anos” e uma das mais intensas e prolongadas. “Uma seca destas na Idade Média seria dramática, o país estaria numa profunda crise de fome”, refere.

O presidente do CNADS realça que para enfrentar as alterações climáticas é necessário, em Portugal e no resto do mundo, "depender muito menos de combustíveis fósseis" (petróleo, carvão e gás natural), porque a sua combustão é um dos principais fatores dessas mudanças, e “investir nas energias renováveis”, o que tem um custo inicial, depois compensado.

“A razão destas alterações climáticas tem a ver com a intensificação do chamado efeito de estufa da atmosfera, com o facto de na atmosfera existirem gases que absorvem a radiação infravermelha, são como se fossem um cobertor na atmosfera e garantem que a temperatura é suficientemente elevada”, salientou.

Filipe Duarte Santos alertou também para a tendência de subida do nível médio do mar, que irá agravar a já significativa erosão costeira, em particular no território continental.

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