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“A saúde é para toda a gente e não uma oportunidade de negócio”

O Hospital dos Covões vem sendo alvo de um processo de desmantelamento que se traduz numa menor oferta na área da saúde naquela região e numa sobrecarga dos profissionais de saúde. Ao mesmo tempo que há uma redução nos serviços públicos, aumentam as camas nos hospitais privados.
“A saúde é para toda a gente e não uma oportunidade de negócio”
Fotografia de Ana Costa.

O contínuo encerramento de serviços e desmantelamento do Hospital dos Covões foi motivo para uma reunião entre Marisa Matias e vários representantes do movimento cívico em defesa deste hospital, uma referência hospitalar na cidade de Coimbra.

Vários dos presentes na reunião salientaram que esta fusão hospitalar deu-se por motivos políticos, não existindo estudos ou argumentos na área da saúde que a justificassem. “Não há ganhos económicos, não há estudos estratégicos, não há nenhum estudo que justifique aquilo que foi cometido contra” este hospital, denuncia Serafim Duarte. 

Marisa Matias começou por lembrar que foi na sequência de recomendações da Troika que “os conselhos de administração dos hospitais decidiram fazer uma fusão que não serve em nada a população e que está a destruir a excelência do Serviço Nacional de Saúde em Coimbra”.

O processo de fusão entre o Hospital dos Covões e o Hospital Universitário de Coimbra começou há nove anos e foi uma tentativa de criar um hospital único para a cidade de Coimbra e região Centro. Porém, este processo “desde sempre se mostrou disfuncional”, explicou o Dr. Carlos Costa Almeida em declarações ao esquerda.net. Esta tentativa de fusão resultou no desmantelamento dos Covões e na sobrecarga do Hospital Universitário de Coimbra, “deixando-o com muita dificuldade de funcionamento”. 

Esta sobrecarga traduziu-se no aumento das listas de espera para consultas e cirurgias, longas horas de espera nas urgências e atrasos em geral criados pelo excesso de trabalho. “Isso é grave porque a assistência não é feita na forma e no tempo devido, as listas de espera mostram uma incapacidade de resposta”, explica o ex-diretor do serviço de cirurgia do Hospital dos Covões. 

A eurodeputada eleita pelo Bloco de Esquerda e candidata à presidência da República vai mais longe e chama a atenção para o facto de neste período de desmantelamento termos “assistido a um aumento do número de camas em Coimbra, mas obviamente no setor privado, ao mesmo tempo que estamos a reduzir a resposta aos cidadãos e cidadãs de Coimbra”. 

“O que aqui se está a passar não é uma situação indiferente àquilo que se passa a nível nacional, e por isso precisamos de defender o Hospital dos Covões, precisamos de defender este direito constitucional que é o direito à saúde e o Serviço Nacional de Saúde, porque nós precisamos de garantir que a saúde é para toda a gente, é para proteger toda a gente e não uma oportunidade de negócio”, alerta Marisa Matias.

Para Serafim Duarte, é importante revalorizar aquele hospital “com as valências que já teve e de que necessita para responder às necessidades de saúde” da população de Coimbra e da região Centro.

O engenheiro Armando Duarte afirma que, apesar de lhe ser atribuído esse nome, o que aconteceu “nunca foi uma fusão, mas sim uma junção administrativa dos vários hospitais” e explica que quando se fala em desmantelamento em curso fala-se sobretudo de um “desmantelamento humano”, o desmantelamento das equipas que lá trabalham.

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