O relatório do primeiro trimestre de funcionamento da primeira sala de consumo assistido no Porto, citado pelo jornal Público, revela que nesse período foram apoiadas 616 pessoas que usam drogas, com um total de 8.112 consumos registados, uma média de 83 consumos por dia nos três meses, ou de 103 consumos diários tendo em conta apenas o mês de novembro, o mais recente deste relatório.
Para o consórcio Um Porto Feliz, que é liderado pela APDES - Agência Piaget para o Desenvolvimento e do qual fazem parte a Cruz Vermelha Portuguesa, a ARRIMO, a SAOM e a Associação para o Planeamento da Família, os resultados são “bastante positivos, dada a forte adesão aos serviços prestados, em particular os de consumo vigiado, por parte da população-alvo”. Mas confirmam também “de forma veemente” aquilo que estas associações já sabiam acerca da “situação preocupante a que se assiste em termos de saúde pública” nas ruas da cidade.
Com a adesão a exceder as expetativas do consórcio, um dos problemas levantados é o do tamanho da sala de consumo assistido, com apenas 90 metros quadrados e onde podem permanecer até 15 pessoas em simultâneo. Uma dimensão “insuficiente para assegurar as condições necessárias à acomodação do programa, levantando questões importantes relacionadas com a segurança e o bem-estar dos profissionais e utilizadores”, destaca o relatório.
A elevada pressão sobre os técnicos, também em número insuficiente face à procura, leva as associações a defender “a necessidade de reforço da equipa técnica do programa, numa fase posterior ao piloto que, atendendo à elevada afluência ao serviço e ao elevado número de pedidos para apoio clínico, psicológico e social, é confrontada com situações de grande pressão”.
Para a vereadora bloquista Maria Manuel Rola, os números apresentados “são impressionantes e mostra que é o caminho certo”. No entanto, apesar de promover uma intervenção integrada, a sala tem capacidade apenas para 15 utentes. “É essencial aumentar esta resposta e proceder à desconcentração dos consumos nesta estrutura para outros locais no território da cidade, aumentando a resposta de saúde pública que aqui se verifica”, defendeu a autarca do Bloco.
Homem, português e entre os 40 e os 50 anos: o perfil do consumidor-tipo
O perfil do consumidor que utiliza o espaço é predominantemente masculino (81,5%) e de nacionalidade portuguesa (97%) e entre os 40 e 50 anos. O consumo fumado é o mais comum (71%) e a combinação entre heroína e cocaína, o “speedball”, é a substância mais consumida, sobretudo nos consumos injetáveis.
Nestes três meses, foram entregues 60.900 seringas e agulhas, 50.600 ampolas de água bidestilada, 29.400 saquetas de ácido cítrico, 26.900 filtros, 25.900 caricas, 52.800 toalhetes de desinfecção, 2822 cachimbos, 15.000 pratas e 2825 preservativos internos e externos.
Nos rastreios ao VIH, Hepatites B e C e Sífilis, o objetivo de conseguir ao fim de um ano o conhecimento serológico de 80% dos utilizadores da sala está longe de cumprido, com apenas dois utilizadores da sala a fazê-lo até novembro. Mas há outros serviços que tiveram mais procura, como os de enfermagem (60 atos praticados), apoio psicológico (28 atendimentos) e social (42 atendimentos). E cerca de 500 pessoas tiveram acesso a “alimentação de conforto”, 375 tomaram banho nas instalações e 250 tiveram acesso a roupa, calçado e serviço de lavandaria.
Esta sala de consumo assistido está localizada na Rua Dr. Albino Aroso, junto ao bairro da Pasteleira, e está aberta de segunda a domingo durante 10 horas diárias.