No comunicado número um de 2018, a CT da RTP denuncia que a empresa “mantém há 3 anos como administrador, o proprietário de uma produtora e de um canal concorrente da própria empresa, o Dr. Nuno Artur Silva, dono da empresa 'Produções Fictícias' e do 'Canal Q'”.
Refere a CT da RTP, que o administrador Nuno Artur Silva tem dito que a lei não o 'obriga' a vender a produtora, desde que a empresa pública não tenha quaisquer negócios com a referida produtora de que o administrador é proprietário. A organização dos trabalhadores expõe então no comunicado o caso do projeto “País Irmão” para o qual a “Produções Fictícias”, pediu em 2014 o apoio do ICA, Instituto do Cinema e do Audiovisual. Em 2017, a RTP comprou a outra empresa o referido projeto, com o mesmo título e os mesmos autores. “O Administrador Nuno Artur Silva, subscreve a compra pela RTP, do projecto que Nuno Artur Silva apresentou ao ICA em nome das 'Produções Fictícias'”, aponta a CT.
A organização dos trabalhadores refere outros casos e informa que, para expor estes casos, pediu uma reunião com o Conselho de Administração da RTP, que decorreu a 11 de janeiro de 2018 com a presença do Presidente da RTP, Gonçalo Reis e do administrador Nuno Artur Silva. O administrador da empresa confirmou a exatidão dos factos, justificando no entanto que os projetos em causa não eram da posse da produtora “Produções Fictícias”, mas dos autores.
Para a CT “alguns dos factos são um claro conflito de interesses”, pelo que decidiu “transmiti-los aos órgãos competentes internos e externos da RTP”.
A organização dos trabalhadores questiona se o atual modelo de gestão da empresa não se terá transformado no contrário do que diz ser e se “em vez de servir para impedir a 'governamentalização' da RTP, não servirá antes como 'tranca jurídica' que permite manter o 'status quo' na empresa e o ambiente de permanente negócio que a rodeia, seja qual for o governo da república”.
“Isto poderia acontecer na BBC? Isto não é exemplo para nenhuma empresa pública em Portugal e não acontece em nenhuma estação de serviço público no mundo civilizado”
O comunicado refere ainda que “a actual RTP tem um director de programas que passou a sua produtora de vídeo para a posse da esposa, um administrador para a área dos conteúdos que tem um canal de televisão em concorrência directa com a própria empresa e um colaborador que emite pareceres sobre a aquisição de projectos de ficção onde participa como actor” e questiona, a concluir: “Isto poderia acontecer na BBC? Isto não é exemplo para nenhuma empresa pública em Portugal e não acontece em nenhuma estação de serviço público no mundo civilizado”.