Em Espanha, a população imigrante representa 15 por cento do total, porém, a sua representação política ao nível do poder legislativo quase nem chega ao 1 por cento. Por isso, não espanta que Rita Bosaho tenha perguntado - “Já era tempo, não?” - quando interpelada pelos jornalistas, após saber-se que se tornou a primeira mulher negra eleita para o Congresso dos Deputados espanhol, nas históricas eleições do último domingo.
Bosaho, com nacionalidade espanhola, nasceu na Guiné Equatorial. Conforme indica o El Diario, embora durante o período colonial, alguns guineenses tenham tido representação nas cortes franquistas (a Guiné Equatorial era tratada como uma província), Bosaho é a primeira deputada eleita, em democracia, com origem nesse país.
Nascida na antiga colónia espanhola, três anos antes da independência, Bosaho tem então 50 anos e vive há mais de 30 anos em Espanha, para onde veio trabalhar como enfermeira, e há 20 em Alicante.
Motivada pelo que chama de "obsessão" pelos Direitos Humanos, cita o The Guardian, e preocupada com o tipo de mundo que o seu filho herdará, Rita Bosaho aceitou encabeçar a lista do Podemos que foi a eleições este domingo, na cidade costeira de Alicante. "É uma janela aberta para o futuro", disse Rita, referindo-se ao projeto do seu partido.
Numa entrevista à agência EFE, Bosaho afirmou que compreendia que a sua candidatura “chamasse a atenção”, mas encarava isso “com naturalidade”.
Conhecida em Alicante pelo seu ativismo social na Plataforma Feminista da cidade ou na ONG Projeto, Cultura e Solidariedade, Rita Bosaho teve de se defender muitas vezes de ataques “por ser radical”. Mas, segundo o El Diario, a recém eleita deputada do Podemos afirma que "o feminismo é uma questão de responsabilidade e seriedade", uma constatação que justifica, entre outras coisas, a luta intransigente contra o flagelo da violência machista no país e, especialmente, na Comunidade de Valência, bem como pela igual representação política das mulheres.
Bosaho critica também a falta de representação política e institucional das pessoas imigrantes ou com nacionalidade espanhola, embora nascidas no estrangeiro. Trata-se de "um problema estrutural que deve ser colocado em contexto, observando-se a paisagem social" do nosso país, afirma.
Temos de ser iguais em direitos, sim, mas diferentes na forma de encarar a vida e de pensar.
Toda esta situação de discriminação "tem a ver com a cultura, com a forma como educamos e os valores transmitidos", mas também se deve "ao paternalismo abrangente e ao sistema patriarcal", bem como "ao modo como se enraízam os preconceitos", explicou.
"A Espanha é isso, a Espanha é diversa, não podemos ser iguais, nunca”, disse. “Temos de ser iguais em direitos, sim, mas diferentes na forma de encarar a vida e de pensar, e isso é o que nos enriquece”, acrescentou, sublinhando ainda que “as nossas múltiplas identidades permitem-nos ter uma visão do mundo mais ampla e transversal”.