Está aqui

Relatório denuncia violações dos direitos humanos do Peru

A Coordenadora Nacional de Direitos Humanos do país relata casos de massacres, execuções extrajudiciais, torturas e violência sexual contra os detidos, além de ameaças e assédio contra advogados e ativistas.
Jennie Dador, secretária executiva do CNDDHH, na apresentação do relatório.

No relatório apresentado na quinta-feira, a Coordenadora Nacional de Direitos Humanos (CNDDHH) denuncia "crimes de lesa humanidade" no país desde o início da repressão do novo governo que afastou o presidente eleito Pedro Castillo. O documento aponta o dedo à militarização do país nos últimos meses e ao aval por parte do novo governo às forças de segurança acusadas de disparar contra os manifestantes.

Desde o início dos protestos em dezembro e até quarta-feira, esta ONG conabilizou 56 mortos - entre os quais sete menores - na repressão das manifestações que começaram nas regiões andinas do sul e alastraram à capital. Do total de vítimas, 46 morreram assassinadas por disparos de balas por parte da polícia e a comissão aponta para o número de 912 pessoas feridas.

O uso arbitrário da força e o recurso a espingardas automáticas que não são autorizadas em contexto de manifestações por parte da polícia são alvo de críticas do relatório. Mas também os "altos funcionários do governo, [que] longe de pôr fim á violência e separar os autores materiais, aprovam e promovem a atuação das forças de segurança", aponta a CNDDHH.

"Creio que não há nenhum direito no catálogo dos direitos humanos que não tenha sido violado. As famílias das vítimas têm o direito à justiça, à reparação e à verdade. Eles têm o direito de saber o que aconteceu, de onde veio a ordem, porque há uma ordem para esta ação, não foram apenas dois ou três polícias malucos à solta. Os responsáveis por este massacre devem ser processados e acabar na prisão como deve ser, pode levar alguns anos, mas esse será o seu lugar", diz Jennie Dador, secretária executiva do CNDDHH, citada pelo correspondente em Lima do diário argentino Página12.

Por seu lado, a responsável pela Unidade de Defensores da CNDDHH sublinha que "há uma carga profundamente racista na atuação da polícia. Não é por acaso que as mortes aconteceram nas regiões onde há população indígena e até ao momento não houve nenhuma morte em Lima", afirma Mar Pérez.

Mas a responsabilização pela violação dos direitos humanos no Peru não parece tarefa fácil. A procuradora-geral do país, Patrícia Benavides, que antes se multiplicava em declarações sobre as acusações de corrupção ao ex-Presidente Pedro Castillo, tem mantido o silêncio e reduzido os meios de investigação às procuradorias que recebem as denúncias de violações de direitos humanos. Um dos acusados pela responsabilidade política pelos massacres, o ex-chefe de gabinete da Presidente Dina Boluarte, Pedro Angulo, foi nomeado para chefiar os assessores da Junta Nacional de Justiça, que nomeia e avalia os magistrados do Peru. E no Parlamento, não há muito a esperar da maioria de direita que apoia Boluarte e aplaude a repressão.

"Não temos confiança na Procuradoria, nem no poder judicial. Não há independência de poderes o que existe é a hegemonia de um poder. A expetativa acerca de uma investigação do Congresso é zero", afirmou Jennie Dador, que acusa a Presidente nomeada pelos deputados de "mentir sistematicamente" quando diz que os manifestantes estavam armados e de andarem a matar-se uns aos outros.

Entretanto, os protestos continuam na capital e por todo o país. A imprensa peruana dava conta que ao início da manhã desta sexta-feira havia 88 cortes de estrada em oito regiões do país, com 16 estradas nacionais cortadas. Os manifestantes continuam a exigir a saída de Dina Boluarte da Presidência e a realização de eleições antecipadas.

 

Termos relacionados Internacional
(...)