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Quino, a colossal força do bom senso

A morte de Joaquín Lavado, ou Quino, provocou surpresa: é como se há muito não estivesse presente, mas nunca nos tivesse abandonado. A Mafalda é rebelde, e por isso ainda hoje fascinante. Artigo de Francisco Louçã.
Quino creador Mafalda, foto de ¡¡¡!!!/Flickr
Quino creador Mafalda, foto de ¡¡¡!!!/Flickr

A Mafalda, com a sua galeria de companheiros, tornou-se um ícone do século XX e, apesar de só ter vivido durante uma década e de ter deixado de ser publicada há quase 50 anos, marcou as gerações seguintes. Em algum sentido, ela é uma criança do tempo dos Beatles, da Guerra do Vietname, da sopa (a alegoria da ditadura argentina). No entanto, todas as suas perguntas são eternas. Isso é o bom senso. Ir para a escola, perguntar aos pais, reagir ao egoísmo de um amigo, olhar as diferenças, em cada tira a Mafalda representava o mundo através das forças mais criativas da humanidade, a curiosidade e a inquietação.

A Mafalda é rebelde, e por isso ainda hoje fascinante, dir-se-á, num tempo em que se elogia a passividade, ou intransigente a respeito do abuso, contrastando com o tribalismo mórbido e supremacismo desigualitário que agora é lei. Mais uma vez, sensatez. Ela travou dessa forma uma das batalhas decisivas da modernidade. Se só Calvin e Hobbes a continuaram, ainda assim em modo cordato, a herança de Quino é este desafio: o que se disputa sempre é o senso comum.

Artigo de Francisco Louçã, publicado no jornal “Expresso” a 3 de outubro de 2020

Sobre o/a autor(a)

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
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