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Quebrar o silêncio no Egipto: liberdade para Amal Fathy e justiça para Giulio Regeni

Os eurodeputados Marisa Matias e Sergio Cofferati escreveram um apelo contra o silêncio das diplomacias acerca da prisão de uma ativista envolvida na descoberta da verdade sobre a tortura e assassinato do estudante italiano Giulio Regeni no Egipto.
Foto Comune di Torino, CC BY 3.0

São muitos os eventos perturbadores e obscuros que aconteceram e que acontecem no Egipto. O silêncio dos políticos e da diplomacia, que relega a maioria desses eventos nos cantos mais esquecidos das agendas políticas e fora de qualquer prioridade nas relações internacionais, é imenso, demasiado.

A prisão de Amal Fathy é um desses eventos que nos inquieta profundamente. A nossa preocupação por ela, pela sua liberdade e pelos riscos que corre, é enorme. Amal foi presa na noite entre quinta e sexta feira, sob a pesada acusação de "terrorismo", por ter publicado um post contra a violência sobre as mulheres e agora arrisca uma pena de prisão perpétua ou mesmo a pena de morte.

Mas além disso, há um outro elemento extremamente preocupante nesta situação. Amal é a esposa de Mohammed Lofty, o ativista de direitos humanos que ajudou e prestou assistência jurídica à família Regeni na busca pela verdade sobre a tortura e a morte de Giulio.

Talvez não tenha sido por coincidência que a prisão foi efectuada pela Segurança Nacional, os serviços secretos que tão profundamente estão envolvidos no caso Regeni. E também não é um mero detalhe que durante a prisão tenham sido apreendidos telefones e computadores que contêm informações e documentos relacionados com a estratégia de defesa da família Regeni. Como talvez não seja uma coincidência que tudo isto tenha acontecido pouco antes da chegada das autoridades judiciárias italianas ao Cairo para conseguirem acesso (com um atraso considerável) a novos elementos de prova, como o vídeo em circuito fechado do metro.

O nosso primeiro pensamento só pode ir para Amal, para a sua família e para a sua libertação, que continua a ser a questão prioritária hoje. Assim como para a liberdade no Egipto, essa mesma liberdade que foi retirada a Giulio: sequestrado, torturado e morto sem que até ao momento se tenha apurado a verdade sobre os responsáveis.

Mas, além disso, achamos importante denunciar o estado substancial de intimidação e perigo para aqueles que, no Egipto, ajudam na difícil busca da verdade e da justiça, e que constitui mais um elemento inaceitável a somar a todas as dificuldades e obstáculos materiais que a defesa da família Regeni encontra.

Mais uma vez, o silêncio num desses eventos que se arriscava a ser drasticamente esquecido pela política e foi quebrado pela força e coragem de Paola Deffendi, que juntamente com Alessandra Ballerini e muitos outros se encontram em greve de fome para pedir a libertação de Amal.

Independentemente dos nossos papéis políticos e institucionais, é nosso dever não deixá-la sozinha e não deixar que o tempo e outras prioridades impeçam a busca da verdade e a justiça para Giulio e a liberdade para o Egipto.

Não podemos deixar de apoiar Paola e todos aqueles que começaram esta acção pela liberdade de Amal.

Sergio Cofferatti, Eurodeputado - Itália

Marisa Matias, Eurodeputada - Portugal


Artigo publicado na edição italiana do Huffington Post

 

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