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PS foi pressionado a não ir a encontro solidário com Lula, diz Boaventura Sousa Santos

Em entrevista, o diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra fala sobre a pressão exercida pelo governo do Brasil e EUA para impedir a participação do PS em iniciativas de apoio a Lula da Silva.
PS foi pressionado a não ir a encontro solidário com Lula, diz Boaventura Sousa Santos
Foto de CulturaGovBR/Flickr.

Em entrevista ao jornal I, Boaventura Sousa Santos fala sobre a situação no Brasil e sobre a iniciativa solidária em defesa da democracia brasileira. Essa sessão foi organizada pelo próprio Boaventura Sousa Santos e Pilar del Rio, presidente da Fundação José Saramago, e contou com a presença de Guilherme Boulos, Tarso Genro, Pablo Iglesias e Catarina Martins. Ana Catarina Mendes, Secretária-Geral adjunta do PS, e Cristina Narbona, Presidenta do PSOE, anunciaram a sua presença, mas acabaram por não comparecer.

Numa conversa sobre a instrumentalização do poder judiciário brasileiro “para caricaturar a democracia sem a eliminar”, o sociólogo afirma que é aí que reside a dificuldade europeia em considerar Lula da Silva um preso político, “porque as pessoas acham que o Brasil é uma democracia”. Como exemplos, fala do Podemos e do seu receio de que essa argumentação seja utilizada para definir os independentistas catalães presos, mas também do Partido Socialista (PS) em Portugal. Boaventura Sousa Santos fala numa pressão que acabou por impedir o PS de marcar presença na sessão em defesa da democracia brasileira, para a qual tinha inicialmente confirmado a sua presença.

“Foi a mesma [pressão] que impediu o PS, por pressão do governo do Brasil e da embaixada dos E.U.A. de estar na iniciativa de solidariedade com a democracia e o Lula”. Recordando que Ana Catarina Mendes “prontificou-se até a encerrar o debate”, demonstrando com isso uma “grande vontade de participação”.

“À última hora, não só não vem, como não nomeia substituto, como se fica a saber pelo PSOE que eles foram pressionados pelo PS português para também não comparecer”. O sociólogo considera que essa pressão surgiu através do Ministério dos Negócios Estrangeiros “que considerou uma iniciativa não amistosa para com um país irmão”.

Quando questionado sobre a falta de apoio da classe média brasileira ao ex-Presidente Lula da Silva, o sociólogo recorda que o ódio de classe sentido está em muito relacionado com “o facto de ele ter tirado muita gente da situação de dependência que se encontrava em relação às classes médias e brancas”, uma vez que as políticas que retiraram 30 milhões de pessoas da pobreza “levaram essas camadas” a aceder a lugares unicamente frequentados pela classe média branca.

Por último, em conversa sobre as lideranças populistas latino-americanas, o diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra esclarece igualmente aquilo que considera serem os equívocos do conceito de populismo, uma vez que este “pretende no fundo eliminar as diferenças entre a esquerda e a direita (…) quando se põe em causa a distinção esquerda e direita, normalmente quem está em causa é a esquerda e nunca a direita”.

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