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Professores: recomeça a greve às horas extraordinárias

Professores “estoirados”, corpo docente envelhecido, abusos na construção de horários. Assim justificam os sindicatos o regresso à greve às horas extraordinárias que acontece esta segunda-feira. Mário Nogueira diz que seria uma afronta aos professores reconduzir o anterior ministro da educação no cargo.
Conferência de imprensa da Fenprof sobre sobrecarga de trabalho dos docentes. Outubro de 2019.
Conferência de imprensa da Fenprof sobre sobrecarga de trabalho dos docentes. Outubro de 2019.

Os professores voltam esta segunda-feira a fazer greve ao trabalho extraordinário. Esta forma de luta começou o ano passado como protesto contra o que consideram ser abusos e ilegalidades na distribuição de serviço que excede as 35 horas semanais estabelecidas. Os docentes acabam assim por trabalhar mais cerca de 30% do que o resto da administração pública.

Com esta greve, as aulas continuam a decorrer mas tarefas como as reuniões de avaliação, de preparação e coordenação de trabalho, secretariados de provas e exames, ações de formação, coadjuvação de aulas, apoios entre outras ficam comprometidas durante todo o ano letivo.

Em comunicado, a Fenprof considera que, apesar deste tipo de greve não ter tido o ano passado a mesma “visibilidade pública” que têm as greves que “deixam os alunos sem aulas”, em muitas escolas “levou as respetivas direções a corrigir as ilegalidades e a acabar com os abusos”. A mesma estrutura sindical esclarece igualmente que “a eventual suspensão desta greve dependerá da disponibilidade do Ministério da Educação, no caso, a próxima equipa ministerial, para respeitar o horário semanal de 35 horas que também se aplica aos docentes”.

Professores envelhecidos e desgastados, governo incapaz de responder aos problemas

Esta greve é convocada por uma plataforma sindical alargada. Dela faz parte a Fenprof que, em conferência de imprensa em Coimbra, se dedicou a esclarecer as consequências deste agravamento do horário de trabalho. Para o secretário-geral desta federação sindical, Mário Nogueira, a sobrecarga de trabalho está a “estoirar” com os professores. “O corpo docente está envelhecido, desgastado, com muitos profissionais em situação de stress e de burnout e o que estão a fazer aos professores é para acabar de vez com o corpo docente”, disse.

Daí que o dirigente sindical adjetive as escolhas do governo como uma “irresponsabilidade” que chegou a “um ponto que é absolutamente inacreditável” com “campanhas junto da opinião publica contra os professores que naturalmente afastou os jovens e alguns menos jovens que já estavam na profissão”.

Para além disso, “esta equipa ministerial e este ministro têm sido incapazes de dar resposta aos problemas”. Dada a “incapacidade” e a “irresponsabilidade”, Mário Nogueira considera que “seria uma afronta e uma provocação aos professores” manter na pasta o anterior ministro da Educação.

Há ainda duas mil turmas sem professores

Ao mesmo tempo que o trabalho está a aumentar, o número de professores reduz-se denunciam os sindicalistas. Terá havido, nos últimos 10 a 12 anos uma redução de mas de 30% de professores no sistema educativo, ao passo que há apenas menos 12 a 15% de alunos. As contas de Mário Nogueira significam portanto que falta estruturalmente contratar 15 mil professores.

A falta de professores tem ainda outra dimensão, noticiada esta segunda-feira no Jornal de Notícias. Passado um mês das aulas terem começado, há ainda 2175 horários por preencher nas escolas, a esmagadora maioria dos quais incompletos. Informática, Geografia e Inglês são os grupos com mais falta de docentes e área da grande Lisboa é a mais afetada. De acordo com Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores, as rendas altas são uma das principais razões para esta escassez de professores já que os horários reduzidos e a ausência de um subsídio de deslocação fazem com que seja impossível para muitos professores aceitar horários em que pagam para trabalhar.

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