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Professores foram ao Ministério dizer que não vão parar

Esta sexta-feira, milhares de professores concentraram-se em frente ao Ministério da Educação. E perante as respostas do ministro, prometeram continuar a luta. A greve rotativa por distritos chegou a Bragança com adesão “entre 90 e 95%”. No resto do país também há escolas fechadas.
Professores protestam em frente ao Ministério da Educação. Foto de Tiago Petinga/Lusa.
Professores protestam em frente ao Ministério da Educação. Foto de Tiago Petinga/Lusa.

Em frente ao Ministério da Educação, no distrito de Bragança, ou em vários outros pontos do país em que os professores se voltaram a auto-organizar em diversos tipos de protestos, esta sexta-feira a luta na educação não deu sinais de abrandar.

Em dia de reunião negocial entre o ministro e os sindicatos de professores, milhares juntaram-se em frente ao Ministério da Educação para voltar a dizer “não paramos”. Os manifestantes não depositavam grandes esperanças no resultado das reuniões e isso mesmo foi confirmado pelo secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, à saída quando reiterou que as propostas do governo são “inaceitáveis” e que “para haver um acordo é preciso o ministro acordar e deixar de parecer que está a dormir perante a contestação dos professores”. Perante esta atitude, a frente sindical coloca a hipótese de “a certa altura” exigir a presença de António Costa nas negociações.

Também à saída da reunião negocial com o ministério da Educação, André Pestana, do Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (Stop) declarou que “o ministro continua a não ver a importância desta grande mobilização uma vez que está a questionar a greve e a querer implementar serviços mínimos a partir de dia 1 de fevereiro”. Para além disso, o “ministro remeteu para o ministro das Finanças” em algumas das questões consideradas mais relevantes para os docentes. E o sindicalista destaca ainda a sua perplexidade em ver que o documento apresentado para negociações “tinha uma única linha relativamente às questões dos colegas não docentes”. Por isso, este sindicato anunciou a convocatória de mais uma marcha de protesto para o próximo dia 28 de janeiro do Marquês do Pombal até ao Terreiro do Paço “se o ministro continuar apenas com a proposta que está em cima da mesa”.

Greve rotativa entre os 90% e os 95% em Bragança

Carlos Silvestre, porta-voz da plataforma sindical que convocou a greve rotativa por distritos que chegou agora a Bragança, estimou a adesão como estando “a rondar entre os 90 e os 95%”. Em Carrazeda de Ansiães terá sido 90%, em Vila Flor 70%, em Macedo de Cavaleiros e Vinhais 100%, em Miranda do Douro 99%, em Mogadouro 90% e em Bragança 95%.

Estes números foram avançados na concentração que reuniu centenas na Praça da Sé, em Bragança. À Lusa, este dirigente sindical juntou às razões que têm sido mais ouvidas ao longo desta onda de mobilizações outras sentidas localmente, como as longas deslocações que os professores do distrito são obrigados a fazer, considerando “inacreditável que nem isso possa ser deduzido em IRS, tal como deduzem outras profissões”, a mobilidade por doença porque “os professores não têm as mesmas condições que em Lisboa e no Porto, têm de se deslocar, têm que procurar os serviços de saúde” e a redução do número de alunos por turma.

O Mensageiro de Bragança colocava no título da notícias sobre o que se passou no distrito esta sexta-feira: “Agrupamentos do distrito praticamente sem aulas devido à greve dos professores”. E os diretores de algumas escolas confirmaram a dimensão do protesto. “Nunca vi uma mobilização assim”, afirmou Paulo Dias, diretor do agrupamento de Macedo de Cavaleiros, explicando que apenas um jardim de infância esteve a trabalhar. O diretor do agrupamento Emídio Garcia, em Bragança, Carlos Fernandes, também fala numa adesão “como há muito não se via”.

O mesmo jornal informa que no maior agrupamento de escolas do distrito, em Mirandela, houve uma adesão “muito elevada com o encerramento de todas as escolas do primeiro e segundo ciclo, ficando apenas uma atividade letiva residual na escola secundária”. A concentração junto à escola sede do agrupamento juntou perto de duas centenas de professores, funcionários não docentes, pais e alunos, que sairam depois em manifestação até à Câmara Municipal, encabeçada por uma faixa que dizia “Juntos para cá do Marão, lutamos pela educação”.

A Associação de Estudantes desta escola juntou-se ao protesto, mostra a CMTV, que dá palavra a Érica, uma dirigente estudantil local que se declara solidária e reitera que “uma greve para ter efeito tem de causar impacto”.

A Rádio Brigantia acrescenta que na Secundária Emídio Garcia houve uma concentração de meia centena de professores pela manhã.

E noutros pontos do país repetem-se lutas

Para além destes protestos, continuam a ocorrer múltiplos outros um pouco por todo o país. O Esquerda.net volta a exemplificar alguns deles.

No dia seguinte à greve distrital ter sido em Braga, os professores da Escola Básica do Prado, em Vila Verde voltaram aos protestos, ilustra O Vilaverdense que os mostra a cantar “Educação estamos em luta, Oh Costa Ciao, Costa Ciao, Costa Ciao”.

E em Famalicão a maioria das escolas “volta a encerrar”, escreve o Cidade Hoje, devido a greve dos professores e funcionários não docentes, nomeadamente a D. Sancho I, a Escola Camilo Castelo Branco, a EB 2,3 Júlio Brandão, as escolas sede dos agrupamentos de Gondifelos e a D. Maria II, em Gavião. Nas duas primeiras houve manifestações com o lema “pela Educação e em defesa da escola pública. Só queremos uma escola digna”. O jornal Opinião Pública traz as imagens do Centro Escolar do Louro, no mesmo concelho, onde docentes e pais se concentraram “em defesa da escola pública”.

O Semanário de Felgueiras diz que os professores do concelho “mantêm a luta e fazem greve à porta da escola” neste dia.

Entretanto, o Jornal das Caldas fez esta quinta-feira um apanhado de algumas das lutas da região nesta semana. De acordo com esta fonte, na Escola Básica e Secundária Amadeu Gaudêncio da Nazaré “não houve aulas dois dias consecutivos” e professores e assistentes operacionais “protestaram à porta do estabelecimento de ensino, na passada quinta e sexta-feira”. Na sexta-feira da semana passada também a Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro nas Caldas da Rainha esteve fechada e na manhã desta quarta e quinta-feira, houve um cordão humano “envolvendo docentes, funcionários, direção e alunos”. E o mesmo se passou na quinta-feira na EBI de Santo Onofre. E na segunda-feira houve um protesto no Agrupamento de Escolas do Cadaval.

No distrito de Setúbal, O Setubalense dá conta de que a Escola Secundária Sebastião da Gama, a Escola Básica 2/3 de Aranguez e as escolas básicas do Montalvão, da Azeda e das Areias fecharam durante a manhã desta sexta-feira.

No Algarve, em Portimão, as greves continuam e há escolas como a Secundária Poeta António Aleixo, encerradas “há várias semanas”. A CNN Portugal, Carla Fernandes, que é de Vila Real, explica o que é estar deslocada 700 quilómetros de casa, ir parar a uma zona com casas a preços incomportáveis e onde “já nem lugar havia no parque de campismo”, tendo sobrevivido a viver no carro.

AEESEP solidária com a luta dos profissionais das escolas

A solidariedade para com a luta das escolas tem chegado de vários quadrantes. Num comunicado emitido esta quinta-feira, a Associação de Estudantes da Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto, manifesta-se igualmente solidária “com as lutas desencadeadas pelo país em torno da dignidade da Escola Pública e de todos os seus profissionais”, criticando o “conjunto vasto de desinvestimento e desmembramento da Escola Pública, desencadeado por diversos Ministérios e Governos: precariedade nas colocações; não reconhecimento da justa carreira dos docentes; falta de profissionais da área psicossocial e assistentes operacionais; cantinas escolares sem dignidade; aumento do número de alunos por turma; modelos curriculares retrógrados; asfixia da democracia escolar através da criação de mega agrupamentos; corpo docente envelhecido; fecho de escolas no interior; etc.”.

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