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Produção de combustíveis fósseis prevista para 2030 excede largamente metas de Paris

Um relatório divulgado esta quarta-feira analisou as previsões de produção de combustíveis fósseis dos vários governos e comparou-as com as metas do Acordo de Paris sobre as alterações climáticas. A conclusão é que o previsto para 2030 excede em 50% o aquecimento de dois graus e em 120% o de 1,5.
Manifestação ambientalista em Birmigham, Reino Unido.
Manifestação ambientalista em Birmigham, Reino Unido. Fotografia de Callum Shaw/Unsplash

O Production Gap Report é um relatório feito por mais de 50 especialistas de várias instituições académicas com o apoio do Programa Ambiental das Nações Unidas. É o primeiro estudo comparativo que pega nas previsões de produção de combustíveis fósseis dos vários países, soma e compara com as metas do Acordo de Paris sobre alterações climáticas. E o resultado não é animador.

A conclusão a que os autores chegam é que, a crer nas projeções e planos de produção definidos pelos próprios governos, em 2030 serão produzidos 50% mais combustíveis fósseis do que aqueles que seriam consistentes com um aquecimento de 2º e mais 120% relativamente ao aquecimento de 1,5º.

Se estes especialistas sublinham que as metas constantes do Acordo de Paris “estão longe de ser adequadas”, ainda mais preocupante é que a produção prevista de carvão, petróleo e gás seja já excessiva à partida até para estes patamares.

Michael Lazarus, um dos autores principais e diretor do Centro dos EUA do Instituto Ambiental de Estocolmo, vinca que “este relatório mostra, pela primeira vez, o quão grande é o desligamento entre os objetivos de Paris sobre a temperatura e os planos e políticas para o carvão, petróleo e a produção de gás”.

Por sua vez Inger Andersen, diretora executiva do Programa Ambiental da ONU, nota no prefácio do relatório que as emissões de carbono permanecem exatamente nos mesmos níveis projetados há uma década. “A oferta de energia mundial continua dominada pelo carvão, petróleo e gás, provocando emissões que são inconsistentes com os objetivos climáticos”, escreve sublinhando a importância do relatório apresentar “uma nova métrica que mostra claramente a distância entre o aumento da produção de combustíveis fósseis e a redução necessária para limitar o aquecimento global”.

Neste relatório colaboram centros de investigação reconhecidos como o Instituto Ambiental de Estocolmo, o Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável, o Instituto de Desenvolvimento Ultramarino e o Centro para a Investigação Internacional Ambiental e Climática.

Para além da conclusão central do estudo, realça-se que o caso mais problemático no cumprimento das metas é o do carvão. Os países planeiam produzir mais 150% em 2030 do que seria consistente com a meta de 2º e mais 280% do que seria consistente com a meta de 1,5º.

O investimento e infraestruturas farão com que o petróleo e gás produzidos em 2040 excedam entre 40 a 50% o limite de 2º.

Os autores apresentam ainda opções para alterar a situação e destacam a importância de um processo justo de transição energética para “assegurar que os afetados por mudança económica e social não são deixados para trás, diz Cleo Verkuijl, investigadora do SEI.

E Måns Nilsson, da mesma instituição, sintetiza a questão de forma assertiva: “estamos num buraco fundo – e precisamos parar de cavar.”

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