Primeiro-ministro teve tratamento privilegiado, acusa bastonário dos TOC

02 de março 2015 - 16:45

Domingues Azevedo, bastonário da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (OTOC), acusa Passos Coelho de ter sido “tratado de forma diferenciada, positivamente, quando comparado com outro cidadão qualquer” e de ser “muito grave” o primeiro-ministro não conhecer “as leis que regem o seu país”.

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Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque e Paulo Portas. Foto de Tiago Petinga/Lusa.

“Admira-me que o primeiro-ministro não tenha sido notificado, pois na altura todas as pessoas que estavam em dívida foram notificadas”, afirmou Domingues Azevedo, lembrando que a Segurança Social tinha mecanismos de execução fiscal ao dispor, para executar o pagamento de dívidas, como penhorar contas, colocar prédios à venda ou penhorar salários. “Se não accionaram esse mecanismo ainda é mais grave, porque então o primeiro-ministro foi tratado de forma diferenciada, positivamente, quando comparado com outro cidadão qualquer”, disse, lembrando que os cidadãos devem ser iguais perante a lei, em obrigações e em direitos.

O bastonário considerou que Pedro Passos Coelho não tem sabido lidar com este seu incumprimento contributivo e que as suas declarações públicas sobre o assunto são “um desastre” político, porque em 2004 o sistema da Segurança Social já estava “oleado” e a funcionar muito bem e “toda a gente sabia da obrigação” de pagar à Segurança Social.

“Dizer que se desconhece o cumprimento dessa obrigação, evidentemente é muito grave. Quer dizer que o primeiro-ministro não conhece as leis que regem o seu país e isso é uma afirmação demasiada gravosa”, afirmou Domingues Azevedo.

“Qual é o cidadão que não se esqueceu alguma vez de uma obrigação”, questionou o bastonário, lembrando que o primeiro-ministro é um cidadão como outro qualquer e devia assumir publicamente este esquecimento e pedir “desculpas aos portugueses”.

Nenhum cidadão pode invocar o desconhecimento da lei para a sua defesa, lembrou, interrogando-se se algum cidadão pode “dar-se ao luxo” de não pagar um imposto ou de se esquecer de o fazer, e defendeu que Passos Coelho está a ser "um muito mau exemplo" para os portugueses.

“O senhor primeiro-ministro, como máximo responsável da gestão do pais, dizer que desconhecia a lei é muito grave. Se desconhece esta lei, de certeza que desconhece outras leis, e isso deixa os contribuintes em situações muito complicadas”, afirmou o bastonário.

Esta segunda-feira de manhã, numa visita ao, Salão Internacional do Setor Alimenntar e Bebidas, em Lisboa, Passos Coelho disse que não “tinha consciência que essa obrigação era devida”, em referência ao facto de não ter pago qualquer contribuição à Segurança Social entre 1999 e 2004.