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Polícia faz buscas na casa do governador do Rio de Janeiro

O ex-aliado que se tornou crítico de Bolsonaro é acusado de desviar dinheiro destinado ao combate à covid-19. Witzel responde que as buscas “oficializam” a instrumentalização da Polícia Federal que está sob averiguação na justiça.
Witzel em conferência de imprensa esta terça-feira. Foto de Carlos Magno/Fotos Públicas.
Witzel em conferência de imprensa esta terça-feira. Foto de Carlos Magno/Fotos Públicas.

Operação “Placebo”. O nome podia ser só uma piada de muito mau gosto num país dizimado pela covid-19 e no qual o Presidente da República insiste em apresentar como miraculoso um medicamento comprovadamente ineficaz e que pode ter efeitos nocivos.

Mas é mais do que isso. Este foi o nome dado pela Polícia Federal brasileira às operações de busca que, um dia depois da nomeação de um novo superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Tácio Muzzi, visaram, entre outros alvos, a residência oficial do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, o seu domicílio pessoal e o escritório de advogados da sua mulher. A Organização Social Iabas, que tinha assinado um contrato de 850 milhões de reais com o governo do Rio de Janeiro para criar hospitais de campanha, também foi visada.

Esta entidade informou em comunicado que foram emitidos 12 mandados e que a ação se insere numa investigação sobre desvio de fundos públicos de combate à covid-19.

As autoridades fizeram saber que os indícios “apontam para a existência de um esquema de corrupção envolvendo uma organização social contratada para a instalação de hospitais de campanha e servidores da cúpula da gestão do sistema de saúde do Estado”.

A notícia é ainda mais polémica devido ao facto de Witzel ter passado de aliado a adversário do presidente brasileiro e da intervenção política deste na Polícia Federal ter causado a demissão do ministro da Justiça Sérgio Moro, levando mesmo a um inquérito que tornou pública a reunião governamental onde Bolsonaro assume essa interferência.

E causa ainda mais estranheza uma vez que a deputada Carla Zambelli, próxima do presidente, ter anunciado previamente numa entrevista à Rádio Gaúcha que estava a haver uma investigação a “alguns governadores”: “a gente deve ter nos próximos meses o que a gente vai chamar de 'covidão' ou não sei qual vai ser o nome que eles vão dar”, afirmou.

No Twitter, outro bolsonarista, o deputado Filipe Barros, tinha-se referido igualmente ao “covidão” a 24 de maio: “bastou [Moro] sair do Ministério da Justiça que a Polícia Federal voltou às ruas em operações de combate à corrupção, agora no COVIDÃO”.

Witzel respondeu em nota enviada à comunicação social alegando não ter “absolutamente nenhuma participação ou autoria minha em nenhum tipo de irregularidade nas questões que envolvem as denúncias apresentadas”. E não deixou passar a oportunidade de criticar a entrevista da deputada bolsonarista: “estranha-me e indigna-me sobremaneira o facto absolutamente claro de que deputados bolsonaristas tenham anunciado em redes sociais nos últimos dias uma operação da Polícia Federal direcionada a mim, o que demonstra limpidamente que houve vazamento, com a construção de uma narrativa que jamais se confirmará. A interferência anunciada pelo presidente da República está devidamente oficializada”, conclui o governador do Rio de Janeiro.

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