Esta segunda-feira teve início o processo de demolição de oito construções ilegais que albergavam outras tantas famílias no bairro do Talude, no concelho de Loures. Os moradores e ativistas pelo direito à habitação presentes tentaram impedir o avanço das máquinas durante a manhã, mas a chegada de dois batalhões da polícia de choque permitiu o avanço da demolição.
“Estão a começar agora a destruição da segunda barraca”, disse à agência Lusa Maria João Costa, da associação Habita, acrescentando que os pertences de quem lá vivia foram colocados “à chuva” pelos funcionários da câmara, enquanto as máquinas avançavam sobre os “20 metros quadrados onde as pessoas tinham toda a sua vida”. Entre os afetados pelas demolições estão cinco menores, dois recém-nascidos, uma mulher grávida e doente e um idoso, aponta a associação.
“Na semana em que o primeiro-ministro anuncia medidas para a habitação, o Estado decide atacar os mais fracos dos mais fracos”, denunciou a ativista, contando ter ouvido uma das conversas entre as técnicas da Segurança Social presentes no local e as famílias que ficaram sem teto, com a proposta de serem acolhidas num abrigo temporário. "Quando a pessoa perguntou onde seria, a técnica respondeu-lhe que ainda não sabia, dependeria das vagas”, afirmou Maria João Costa, criticando o facto de que “com o despejo marcado para hoje, a Segurança Social ainda não sabe onde vai alojar as pessoas”.
Também presente no local da demolição, o missionário da paróquia de Camarate, José Manuel, afirmou que “ao certo há mais 20 ou 30 barracas, só que sete famílias é que receberam a ordem de demolição”.
Bloco acusa Câmara de Loures de romper compromisso de não demolir sem alternativas de habitação
A Câmara Municipal de Loures anunciou a ação de demolição que visa "oito famílias que residem há meses naquele local e que construíram aquelas barracas”, justificando a política do município “de grande fiscalização no território de forma a não permitir a construção de novas habitações desta índole”. A vice-presidente da autarquia, Sónia Paixão, adiantou à Lusa que os casos foram “devidamente assinalados há mais de uma semana e providenciados os mecanismos de apoio existentes” por parte da Segurança Social. Dos oito casos, há dois "que estão a ser analisados cumulativamente pelos serviços da câmara porque cumprem, eventualmente, requisitos à luz do regulamento de habitação", acrescentou a autarca.
Face a estas demolições, a deputada municipal bloquista Rita Sarrico acusa a Câmara de Loures de romper com o compromisso assumido em maio de 2021, após a luta de moradores e associações, "de não demolição de habitações enquanto não se encontrassem soluções definitivas para os moradores". E exige que "a Câmara Municipal cumpra com a sua palavra: nenhuma demolição sem uma solução digna de realojamento permanente".
Para a associação Habita, "estas famílias, não conseguindo encontrar uma alternativa de habitação não tiveram outra alternativa que não fosse construir uma barraca. Este é o país que voltou a atirar as pessoas para situações em que não lhes resta outra opção que não a construção de barracas".
"Enquanto o governo nos entretém com o lançamento caótico e atabalhoado de medidas para habitação que falham redondamente por não abordarem os problemas fundamentais e as causas da crise de habitação, nem criarem medidas imediatas de estancamento da crise, os despejos e a emergência habitacional continuam a fazer-se sentir, e as pessoas são atiradas para a rua pelo próprio Estado", conclui a associação.
Para o dia 1 de abril estão marcadas as manifestações "Casa para Viver" em Lisboa e no Porto, com vista a defender medidas concretas para travar a especulação do preço das casas e dos arrendamentos e um parque público de habitação que dê resposta a quem vive do seu salário e com esse rendimento está hoje excluído do mercado da habitação nas zonas onde vive a maioria da população.