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Polícia de Hong Kong detém direção de jornal anti-regime

500 polícias entraram no Apple Daily invocando a lei de segurança nacional. Acusam o jornal sensacionalista de apelar a sanções externas e de estar em conluio com forças estrangeiras.
Um dos administradores do Apple Daily a ser escoltado para dentro das instalações do jornal. Foto de JEROME FAVRE/Lusa.
Um dos administradores do Apple Daily a ser escoltado para dentro das instalações do jornal. Foto de JEROME FAVRE/EPA/Lusa.

Cerca de 500 polícias fizeram na madrugada desta quinta-feira uma rusga ao tabloide Apple Daily. As forças de segurança de Hong Kong vasculharam o conteúdo de computadores da redação e apreenderam 38 deles, para além de vários telemóveis, prenderam cinco diretores da publicação e congelaram perto de dois milhões de euros em bens de três empresas ligadas ao jornal.

As autoridades invocaram a Lei de Segurança Nacional. John Lee, secretário de Segurança de Hong Kong, classificou mesmo a redação do jornal como “local de crime”. Os detidos são acusados de “usar o trabalho jornalístico” para incitar forças estrangeiras a impor sanções à China. Em declarações citadas pela Reuters, o governante justificou-se ainda dizendo que “os jornalistas normais são diferentes destas pessoas”. Aos restantes jornalistas deixou a seguinte mensagem: “façam o vosso trabalho jornalístico tão livremente quanto quiserem de acordo com a lei, desde que não conspirem ou não tenham qualquer intenção de violar a lei de segurança nacional”.

Por sua vez o jornal, em carta aos leitores, diz ser vítima de um “ataque dirigido pelo regime” mas promete “continuar com as suas publicações lealmente e lutar até ao fim”.

O Apple Daily foi criado há 26 anos e especializou-se em notícias sensacionalistas sobre crimes, escândalos sobre “celebridades” e mexericos. Tem mantido também um discurso contra o regime. Sendo o segundo mais lido, um relatório da Reuters de 2019 mostrava que era também considerado o terceiro menos fiável do território. Não é a primeira vez que é alvo de uma rusga. Em agosto do ano passado, 200 agentes policiais permaneceram nove horas, realizando buscas, levando 25 caixas com material e tendo feito detenções. Já nesta ocasião as acusações eram as mesmas: a conspiração com forças estrangeiras e a defesa de sanções. E em maio deste ano, a Reuters tinha noticiado que o chefe de segurança de Hong Kong tinha enviado cartas a filiais do HSBC e Citibank, ameaçando com sete anos de cadeia quem fizesse quaisquer transações com o seu dono.

O jornal é propriedade do milionário Jimmy Lai, preso desde dezembro por participação em “assembleias ilegais”, ou seja, no âmbito do chamado movimento pró-democracia no território. Tem igualmente as contas bancárias e ações congeladas. Do setor do vestuário, Lai decidiu expandir-se para o da comunicação, fundando a Next Media da qual faz parte o Apple Daily e que funciona também em Taiwan. Na China, as suas publicações estão banidas devido ao caráter provocatório de várias das suas tomadas de posição, nomeadamente por ter insultado o antigo primeiro-ministro Li Peng e ter escrito que o Partido Comunista Chinês era “um monopólio que cobra um preço de luxo por um péssimo serviço”. A oposição ao regime sem papas na língua e o papel do Apple Daily na cobertura dos protestos de 2019 em Hong Kong, valeram-lhe o prémio de liberdade de imprensa dos Repórteres Sem Fronteiras em 2020.

Lai é considerado um liberal e tem um fascínio pelos Estados Unidos, que pensa ser “o maior país do mundo” e para onde foi em 1969 vender roupa, segundo declarações suas ao Financial Times. Para ele, “o mundo livre tem apenas um conjunto de instituições e estas são ocidentais e evoluíram a partir da civilização ocidental. Diz que a sua inspiração é o livro “O Caminho da Servidão” de Friedrich Hayek, havendo um busto deste na receção do seu grupo de comunicação. Expressou por várias vezes a sua admiração por Trump e, no verão de 2019, encontrou-se com Mike Pence, então vice-presidente dos EUA, com o Secretário de Estado, Mike Pompeo, e com Nancy Pelosy, presidente da Câmara dos Representantes, entre outras figuras políticas norte-americanas. Posições e visitas que lhe valeram quer um acentuar das críticas dos meios de comunicação social favoráveis ao Partido Comunista Chinês, que dizem que o movimento a favor da democracia é apenas uma fachada dos EUA para desestabilizar a China, e da esquerda do movimento pela democratização de Hong Kong.

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