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Polémicas nas sessões com Zelensky nos parlamentos grego e cipriota

Na ronda de intervenções do presidente ucraniano a apelar aos parlamentares de vários países que reforcem o apoio ao país, as desta quinta-feira ficarão na memória dos destinatários por razões distintas.
A primeira mensagem foi transmitida em direto no Parlamento de Atenas e o vídeo de Zelensky até estava a ser bem recebido pelos deputados da Nova Democracia, Syriza e Pasok, na ausência dos deputados comunistas do KKE e dos ultranacionalistas da Solução Grega, além da presença simbólica de apenas um deputado do Diem25, o partido do ex-ministro Varoufakis. Por entre várias referências à história da Grécia e às lutas do seu povo pela libertação, Zelensky lembrou o papel da igreja ortodoxa grega na cristianização da Ucrânia e a herança cultural que os aproxima, além da forte comunidade de origem grega em Mariupol, uma das cidades mais destruídas pela guerra.
Mas o pior veio depois: talvez para fortalecer essa mensagem de proximidade, o vídeo de Zelensky incluiu um depoimento de um soldado de origem grega nascido em Mariupol a dizer que pertencia ao batalhão Azov e que estava a defender a sua cidade “contra os nazis russos”.
O mal estar depressa se estendeu por todo o parlamento, com as mensagens de repúdio a sucederem-se. O antigo primeiro-ministro da Nova Democracia, Antonis Samaras, afirmou que deixar passar uma mensagem de um membro do batalhão conhecido pela sua ideologia neonazi foi “um enorme erro”. Um porta-voz do atual governo do mesmo partido, Giannis Oikonomou, admitiu que a inclusão da mensagem foi “incorreta e inapropriada”.
Do lado da oposição, o ex-primeiro-ministro Alexis Tsipras afirmou que “o discurso de membros dos neonazis do Batalhão Azov no Parlamento grego é uma provocação” e responsabilizou diretamente o primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis pelo sucedido. “A solidariedade com o povo ucraniano é um dado adquirido. Mas os nazis não podem ter a palavra no Parlamento”, acrescentou Tsipras. Quanto à bancada dos socialistas do Pasok, apontou responsabilidades ao presidente do Parlamento, pedindo explicações sobre a razão para os deputados não terem sido avisados da mensagem do Batalhão Azov.
Em defesa desta milícia da extrema-direita integrada no exército ucraniano desde 2014 veio o embaixador da Ucrânia em Atenas, Sergii Shutenko. Para o embaixador, a ideia de que o Batalhão Azov é um grupo de paramilitares que age por conta própria sem obedecer à disciplina do exército é um “um mito que a Rússia tenta plantar nas mentes gregas há muitos anos”.
E a ocupação do Chipre? “Os princípios da lei não distiguem entre países”, lembra o Presidente
Horas depois, foi a vez da digressão virtual de Zelensky chegar ao parlamento cipriota. O principal partido da oposição, os comunistas do AKEL, tinha afirmado as suas reservas à presença de Zelensky mas decidiu participar em solidariedade com o povo da Ucrânia “que sofre as consequências da invasão russa e do braço de ferro entre o Ocidente e a Rússia”. No entanto, ao saber da mensagem do Batalhão Azov em Atenas, o AKEL decidiu não participar na sessão solene.
Quem assistiu no Parlamento à transmissão de Zelensky foi o Presidente do Chipre, Nicos Anastasiades. Por entre um videoclip com imagens de destruição e apelos ao encerramento dos portos cipriotas aos navios russos ou ao fim dos passaportes dourados e vistos gold que o Chipre concede a cidadãos da Rússia, Zelensky reforçou o apelo feito a Atenas para que o governo pressione a UE a apertar o cerco das sanções à Rússia.
Antes do início da intervenção, com o presidente ucraniano já em direto, a presidente do Parlamento cipriota, Annita Demetriou, lembrou que o “Chipre sabe muito bem o que a invasão e a guerra significam. Tanto o Chipre como a Ucrânia são vítimas de ocupação por um país vizinho mais forte”, referindo-se à ocupação turca da ilha. Mas ao contrário do que fez em Atenas, sublinhando os aspetos que aproximam os dois povos, Zelensky nada disse sobre a ocupação do Chipre.
Um silêncio que não passou despercebido ao Presidente do Chipre. “É claro que devia ter dito alguma coisa, quero ser muito sincero… o que esperávamos hoje era ouvir sobre o sofrimento do povo ucraniano, o mesmo que sofremos em 1974”, afirmou Anastasiades, dizendo-se “incomodado” pela ausência de referência à invasão turca. “Os princípios da lei não distiguem entre países”, concluiu.
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