Passos recompensa amigos com lugares na FLAD

19 de novembro 2013 - 14:34

O primeiro-ministro nomeou Vasco Rato para presidir à Fundação Luso-Americana. O antigo colaborador de Passos, que com ele fundou uma ONG para financiar a empresa Tecnoforma, presidiu mais tarde ao "grupo de reflexão" que tinha por objetivo levar Passos à liderança do PSD. Depois de Agostinho Branquinho, Rato torna-se o mais recente membro da loja Mozart a trocar a Ongoing Brasil por um lugar de nomeação do Governo.

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Vasco Rato, Passos Coelho e Ângelo Correia na noite eleitoral da distrital de Lisboa do PSD em 1996, em que o atual primeiro-ministro foi candidato. Foto André Kosters/Lusa

Especialista em Relações Internacionais a lecionar na Universidade Lusíada, Vasco Rato foi um dos colaboradores mais próximos do atual primeiro-ministro na operação que o levou a ascender à presidência do PSD. Fez parte da comissão política laranja quando o PSD era liderado por Marques Mendes e presidiu mais tarde à "plataforma Construir Ideias", que reuniu o núcleo duro do assalto à direção de Manuela Ferreira Leite.  Já em 1996 (na foto), fazia parte da equipa que lançou Passos Coelho para a presidência da distrital de Lisboa do PSD.

Vasco Rato foi também uma das figuras do PSD presentes na loja Mozart, que ficou célebre pelas ligações ao mundo da espionagem e dos negócios. E tal como outros membros dessa loja maçónica, acabou colocado na Ongoing Brasil, à semelhança de Agostinho Branquinho, também nomeado por Passos Coelho na última remodelação do Governo para secretário de Estado da Solidariedade e Segurança Social.

Mas as ligações de Vasco Rato a Passos Coelho passaram também pela atribulada vida empresarial do primeiro-ministro. O agora nomeado presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) foi um dos que deu o nome para fundar uma ONG de cooperação, a CPPC, que não tinha outro objetivo senão captar financiamentos para a Tecnoforma, a empresa gerida por Passos Coelho que recebeu fundos comunitários para formação e outros projetos, distribuídos pelo Governo do PSD quando Miguel Relvas ocupava a pasta da Administração Local. 

As ligações de Vasco Rato às relações luso-americanas não são exclusivas da sua carreira académica. O futuro presidente da FLAD participa também em atividades organizadas pela Associação de Amizade Portugal/EUA, uma instituição patrocinada em exclusivo pela EDP e que conta na direção com os dois fundadores da Loja Mozart (António Neto da Silva, também do PSD, que preside à associação, e Paulo Noguês), bem como de outros membros daquele grupo maçónico como Nuno Manalvo (ex-assessor do PSD e chefe de gabinete de Isaltino) ou o próprio Nuno Vasconcellos (líder da Ongoing). A Assembleia Geral é presidida por Armando Vara (o ex-ministro socialista acusado de tráfico de influências no processo Face Oculta, atual presidente da construtora Camargo Corrêa África) e no Conselho Consultivo têm assento figuras como Jorge Silva Carvalho (o ex-espião acusado de desvio de informações para fins privados), Faria de Oliveira (nomeado por Passos para presidente da Caixa mal tomou posse como primeiro-ministro) e Rui Machete (ex-presidente da FLAD e atual Ministro dos Negócios Estrangeiros, que no entanto ainda consta da página dos órgãos sociais da AAPEUA).

Mas a forte ligação transatlântica de Vasco Rato ficará para sempre marcada por um debate público na Hemeroteca de Lisboa, organizado pela revista História na noite em que as primeiras bombas caiam sobre Bagdade na invasão de 2003. O professor de Relações Internacionais garantiu à audiência, maioritariamente adversa à invasão que tinha tido luz verde dias antes na "cimeira das Lajes", que iria passear pelo Rossio completamente nu caso as tropas de George W. Bush não encontrassem o arsenal das armas de destruição maciça. Dez anos depois, a promessa de Vasco Rato ainda está por cumprir, mas a recompensa pela dedicação à carreira política e empresarial de Passos parece ter chegado na altura certa.

Para acompanhar Vasco Rato na gestão da FLAD, Passos Coelho nomeou ainda outra figura que o ajudou na subida ao poder. Trata-se do historiador Rui Ramos, o homem escolhido pelo atual primeiro-ministro para fazer a apresentação do seu livro "Mudar", editado pela Bertrand sob a orientação de Francisco José Viegas, também ele nomeado depois para o Governo.  O ex-governante socialista José Lamego, que colaborou com os ocupantes norte-americanos no Iraque antes de se mudar para o conselho geral do BPN Efisa, é outro dos contemplados com um lugar na administração da FLAD.