Parceiro romeno do Chega quer anexar territórios da Ucrânia

21 de fevereiro 2024 - 18:20

Considerado próximo do Kremlin, o partido romeno da família política de André Ventura defende o fim do apoio a Kiev. E tal como a Rússia também quer anexar partes do atual território da Ucrânia.

PARTILHAR
André Ventura e Claudiu Tarziu em Bucareste.
André Ventura e Claudiu Tarziu em Bucareste. Foto publicada na conta X de Ricardo Regalla.

Com 20% de intenção de voto nas sondagens, a União dos Romenos (AUR) é neste momento o segundo maior partido da Roménia e tem uma nova bandeira, a de "recuperar" territórios da Ucrânia que em tempos pertenceram à Roménia.

O seu dirigente Claudiu Tarziu, que foi presidente do partido e nos últimos anos esteve várias vezes em Portugal a convite do Chega, defendeu que o seu país deve "reunificar-se" com a Moldávia e com as regiões ucranianas da Bessarábia, Bucovina do Norte e Transcarpátia. “A Bessarábia tem de regressar a casa. A Bucovina do Norte não pode ser esquecida, a Bessarábia do Sul, a Transcarpátia, tudo o que foi e é parte da nação romena deve regressar às suas fronteiras estatais”.

"A NATO, à qual a Roménia fez grandes esforços para aderir - precisamente para nos proteger dos russos, que já nos invadiram 12 vezes - é apenas um desses impérios com que temos de lidar para conquistar partes da Ucrânia", afirmou Tarziu, que defende a melhoria das relações entre o seu país e a Rússia, com quem partilha as ambições territoriais.

Numa das suas visitas a Portugal, em junho de 2022, o defensor da anexação de territórios da Ucrânia fez-se fotografar com Diogo Pacheco de Amorim e o chefe de gabinete de André Ventura e responsável pelas relações internacionais do partido, Ricardo Regalla Dias Pinto.

Meses mais tarde, em novembro, foi André Ventura que viajou a Bucareste para um encontro de partidos da extrema-direita europeia, onde discursou ao lado de Claudiu Tarziu. Segundo o seu chefe de gabinete, foi "uma das mais aplaudidas intervenções do dia".

"Não seremos verdadeiramente soberanos até que restauremos o Estado romeno em suas antigas fronteiras", afirmou agora Tarziu, que é candidato ao Parlamento Europeu.

O atual líder do AUR, George Simion, também passou por Portugal em março no ano passado e foi recebido na Assembleia da República pelo mesmo responsável do Chega, em representação de André Ventura.

Do irredentismo anti-húngaro à simpatia pelo Kremlin, passando pelo discurso anti-vacinas

O partido romeno foi em tempos uma pequena formação irredentista hostil à minoria húngara, uma posição entretanto suavizada pela proximidade ao regime de Viktor Órban. Nos últimos anos procurou capitalizar politicamente as teorias da conspiração anti-vacinas na altura da pandemia e virou em seguida o seu foco para a guerra da Ucrânia, proclamando que essa guerra "não é nossa" e pronunciando-se contra a ajuda a Kiev. George Simion foi acusado de espalhar informações falsas nas redes sociais a seguir ao início dos bombardeamentos israelitas a Gaza, acusando o governo de Bucareste de ter pago pela evacuação de três mil ucranianos de Israel e de nada ter feito para tirar os cidadãos romenos da zona do conflito. Acusações que foram desmentidas palas autoridades romenas, afirmando que foram poucas centenas de ucranianos evacuados de Israel e que eles próprios pagaram as despesas da operação.

O líder do AUR foi entretanto proibido de entrar na Ucrânia e na Moldávia e segundo o Financial Times um jornal ucraniano publicou uma notícia a citar fontes dos serviços secretos sobre os laços de Simion ao Kremlin. Por seu lado, este responde que todas as vozes dissidentes "são automaticamente rotuladas de putinistas".

O líder do AUR foi entretanto proibido de entrar na Ucrânia e na Moldávia e segundo o Financial Times um jornal ucraniano publicou uma notícia a citar fontes dos serviços secretos sobre os laços de Simion ao Kremlin. Por seu lado, este responde que todas as vozes dissidentes "são automaticamente rotuladas de putinistas".

Durante uma visita de Zelensky a Bucareste em outubro, o líder do AUR acusou-o de "falta de coragem" por ter cancelado o seu discurso no parlamento romeno. A antiga senadora do AUR Diana Șoșoacă, agora independente, tinha ameaçado na altura interromper o discurso do presidente ucraniano, chamando-lhe "nazi". O partido opõe-se também ao trânsito de produtos agrícolas ucranianos pelas estradas romenas e à presença no país dos pilotos ucranianos em treino nos caças F-16.

 

 

 

Termos relacionados: InternacionalChegaUcrânia