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Os “soldados fantasma” que ajudaram os talibãs a chegar ao poder
Entre julho e agosto deste ano, no quadro do processo de retirada dos EUA do Afeganistão, o exército dos talibãs desencadeou uma ofensiva que rapidamente fez colapsar o exército governamental. Os milhões de dólares investidos pelos EUA em treino e equipamento militar de nada valeram nessa circunstância.
As causas da debandada em massa e da falta de eficácia foram várias e já muito debatidas. Mas, agora, o ex-ministro das Finanças afegão, Khalid Payend, acrescenta outra: a maioria dos 300 mil soldados e polícias que constavam dos registos governamentais pura e simplesmente não existiam. Os generais aumentavam números para desviar dinheiro público.
À BBC o governante, que se demitiu e saiu do Afeganistão durante a ofensiva talibã, diz que não havia rigor na prestação de contas das Forças Armadas e calcula que a quantidade de militares era seis vezes menor do que a oficial. “Da forma como a contabilidade era feita, perguntava-se ao chefe de cada Província quantas pessoas estavam baseadas ali e, com base nisso, calculavam-se salários e outras despesas – e esses números sempre eram inflacionados”.
Para além disso, “alguns comandantes também deixavam de reportar deserções e mortes de soldados e guardavam seus cartões do banco, para que pudessem se apropriar da remuneração antes paga aos seus oficiais”.
Payenda acusa ainda alguns generais de receberem dinheiro dos dois lados: um salário oficial do governo e um suborno dos talibãs e que essa foi outra razão para que o exército tivesse largado armas sem se bater.
Este órgão de comunicação social sublinha ainda que os norte-americanos não eram alheios a estes factos. Cita-se um relatório americano de 2016 do Inspetor Geral Especial para a Reconstrução do Afeganistão que afirmava que "nem os Estados Unidos nem os seus aliados afegãos sabem quantos soldados e polícias afegãos realmente existem, quantos estão de facto disponíveis para o serviço ou, por consequência, a verdadeira natureza das suas capacidades operacionais". E, noutro documento posterior, a mesma entidade indicava "sérias preocupações sobre os efeitos corrosivos da corrupção… e a questionável precisão dos dados sobre o tamanho real da Força".
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