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“Os professores acordaram, habituem-se”: greve passou por Portalegre

Muitas escolas encerradas, outras com níveis de adesão à greve de perto de 100%, assim foi o dia em que a greve rotativa por distritos convocada por nove sindicatos docentes passou por Portalegre. Mas há muito mais pontos a conhecer aqui no mapa das lutas da educação esta terça-feira.
Professores em protesto em Portalegre. Foto da Fenprof.
Professores em protesto em Portalegre. Foto da Fenprof.

O ponto principal de encontro foi a Praça da República. Os professores de Portalegre estiveram esta terça-feira em greve e a adesão rondou entre os 90% até perto dos 100%, de acordo com os sindicatos. Enquanto desfilavam pelas ruas da capital de distrito, as palavras de ordem repetiam a determinação que tem cruzado o país: “Não paramos, não paramos” ou “A escola unida jamais será vencida”. E os cartazes traziam certezas semelhantes como “Os professores acordaram, habituem-se”.

No protesto, confrontava-se António Costa. O primeiro-ministro disse em entrevista à RTP “que o Governo estava na negociação de boa-fé e disse que tinha feito uma revolução na carreira dos professores, ainda não demos por nada”, contrapõe o secretário-geral adjunto da Fenprof José Costa. O primeiro-ministro, aliás, foi recebido neste mesmo dia por um protesto de professores junto à Câmara Municipal do Seixal quando se ia deslocar para assistir ao início dos trabalhos de demolição no Bairro Vale de Chícharos, conhecido como Bairro da Jamaica.

José Janela, dirigente do Sindicato dos Professores da Zona Sul, em frente a uma Escola Secundária José Régio com 100% de adesão à greve e que “já esteve várias vezes concentrada aqui à porta” durante este processo de luta, afirmava à SIC que a greve “está a ser um grande sucesso” e enumerava razões para a contestação: os professores deslocados, a precariedade “anos e décadas a fio”, “as pessoas paradas no meio da carreira que nunca vão chegar ao topo da carreira nem sequer ao nono escalão”, as que “já deviam estar reformadas e estão sobrecarregadas de trabalho”, com a burocracia nas escolas “cada vez mais a aumentar”, o “perigo da municipalização”. Outro dos professores da sua escola exemplificava: “era suposto eu estar quatro anos no quarto escalão e estive 15 anos. O sistema de quotas é castrador, não permite que tenhamos uma progressão digna na carreira. Imagine só a quantidade de dinheiro que perdi nestes 15 anos, é uma afronta.”

E outros exemplos das questões que José Janela realçara também não faltavam entre os vários docentes que iam desfilando ao fim da manhã em Portalegre. Joana Cruz contava à Lusa que, sendo de Arouca e estando colocada em Campo Maior “durante uma semana faço 700 quilómetros [ida e volta] para ir dar aulas” sem ajudas de custo.

Um país cheio de ações na educação

Em dia de mobilização no Alto Alentejo, os professores do resto do Alentejo também foram à luta. O portal de informação O Digital informa que foram marcadas para o final da tarde vigílias pela educação em várias localidades, destacando Mértola, Ourique, Almodôvar e Serpa. E a Rádio Campanário informou que voltou a haver manifestação à porta do Agrupamento de Escolas de Arraiolos.

Em Sines, de acordo com o Correio da Manhã, todas as escolas do concelho se juntaram para uma marcha no centro histórico. Nela, uma das professores presentes insurgia-se contra o discurso do Governo sobre serviços mínimos e escola inclusiva. Aos microfones daquele canal, disse que a escola “não é nada inclusiva” porque “não temos técnicos para os apoiar”, referindo-se aos alunos com necessidades educativas especiais, alegando que no seu agrupamento há um assistente operacional para três alunos com estas necessidades e “não temos professores de educação especial que cheguem”. “Os mínimos são os nossos dias todos”, sublinha, indignada com a forma como o Governo decidiu os serviços mínimos para a greve na educação. A seu lado, uma trabalhadora não docente criticava a “desvalorização” da sua classe: “é como se não existíssemos para o Governo”, conclui.

Para além disso, de norte a sul do país registaram-se esta terça-feira várias greves, cordões humanos, concentrações e marchas. Em Mafra, a RTP mostra como os professores de cinco agrupamento se juntaram no WhatsApp e acabaram por marcar uma manifestação para esta terça-feira que começou em frente à Escola José Saramago. Um dos presentes dizia ser “fundamental acabar com as quotas” na progressão na carreira, “recuperar o tempo de serviço”.

Em Rio Tinto, Gondomar, também a RTP informa que não houve aulas na Secundária ao primeiro tempo por causa de uma concentração à porta da escola. Foi a primeira vez que esta escola encerra neste processo de luta. Os alunos ficaram assim “surpreendidos”, de acordo com o canal estatal, mas mostraram-se solidários com os docentes. João Ferreira destacou a “dignidade e o respeito que merecem” os seus professores que se manifestavam.

A Voz de Trás os Montes assinala escolas fechadas em Vila Pouca de Aguiar, Pedras Salgadas, Vila Real e Alijó.

O Felgueiras Diário dá conta do encerramento de várias escolas no concelho, nomeadamente a EB 2,3 D. Manuel Faria e Sousa onde se podia ler num cartaz: “não é a greve que prejudica os alunos, mas sim a falta de assistentes operacionais”. O mesmo jornal adianta, em notícia separada, que também a Escola Básica e Secundária Dr. Machado de Matos e a EB 2/3 de Lagares estavam encerradas assim como “todo o Agrupamento Dr. Machado de Matos”.

O Cidade Hoje diz que no concelho de Famalicão voltaram a haver escolas encerradas, por exemplo a Secundária D. Sancho I, a Júlio Brandão, a EB Nuno Simões, as escolas sede D. Maria II, Gondifelos e Pedome e que “novamente, um cordão humano que uniu os três principais estabelecimentos de ensino da cidade em protesto”.

A Rádio Alto Ave reporta a “elevada adesão” à greve em Vieira do Minho, sobretudo EBS Vieira de Araújo.

Em Coimbra, lê-se no Diário As Beiras, voltava-se a exigir respeito na passada segunda-feira na Escola Secundária Avelar Brotero numa ação classificada como espontânea que foi “passando de boca em boca” e que resultou num protesto com o mote “Brotero a lutar, também está a ensinar”. Nuno Simões, um dos docentes presentes, foi mais um a contestar uma imposição de serviços mínimos que “transmite a ideia de que as escolas são vistas como um depósito para colocar os alunos. Há uma falta de respeito total. Por nós, pelos alunos e pela escola”. Também na Escola Básica 2, 3 Eugénio de Castro houve manifestação à porta da escola, informa-se.

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