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Os insetos do planeta estão a desaparecer

A população de insetos do planeta está a decair a um ritmo que, a manter-se, levaria à extinção completa dentro de um século, revela um novo estudo. Dados reforçam hipótese da sexta extinção em massa, que já estará a decorrer por intervenção humana.
As borboletas são das espécies em declínio mais acentuado. Foto khteWisconsin/Flickr.
As borboletas são das espécies em declínio mais acentuado. Foto khteWisconsin/Flickr.

Se gosta de passear de automóvel fora das cidades, talvez tenha a sensação que hoje em dia ficam muito menos insetos esmagados contra o vidro que há uns anos atrás. Essa mesma sensação intrigava Francisco Sanchez-Bayo, investigador da Universidade de Sidney. Em conjunto com um colega de Brisbane, Sanchez-Bayo foi averiguar as investigações recentes sobre a evolução das populações de insetos no mundo e chegou a conclusões sonantes: a manter-se o atual ritmo de declínio, os insetos poderiam desaparecer do planeta dentro de um século.

O artigo "Worldwide decline of the entomofauna: A review of its drivers", publicado na revista Biological Conservation é um meta-estudo — ou seja, um estudo que reúne e sistematiza estudos anteriores — que selecionou 73 investigações já realizadas. Segundo os dados que apurou, nos últimos 25 a 30 anos a massa total de insetos no planeta caiu 2,5% por ano, uma taxa de extinção 8 vezes maior que a registada para mamíferos, aves ou répteis, cujo declínio era conhecido e motivo de preocupação há mais tempo. 40% das espécies de insetos estão em declínio (queda populacional até 30%), e outro terço delas estão ameaçadas (queda superior a 30%).

Algumas espécies estão numa queda mais acentuada que esta média. Num estudo no Reino Unido, as borboletas registaram uma queda de quase 60% nas zonas agrícolas durante a primeira década pós-milénio. As abelhas nos EUA distribuiam-se em 1947 por cerca de 6 milhões de colónias, hoje encontra-se apenas 2,5 milhões. Os coléopteros, o maior grupo de insetos com cerca de 350 mil espécies, entre eles os besouros e joaninhas, também registam declínios acentuados. Restam ainda muitas espécies sobre as quais se sabe pouco, por exemplo as moscas, formigas e grilos. Por outro lado, há um grupo reduzido de espécies resistentes aos factores de ameaça humana que estão a crescer e preencher em parte o vazio deixado pelas espécies em recuo, como algumas espécies de vespa resistentes aos pesticidas — mas não o suficiente para compensar o declínio geral.

As principais causas deste morticínio de insetos são de origem humana: primeiro que tudo, a perda de habitats devido à expansão da urbanização e da agricultura intensiva; e em segundo lugar a poluição, particularmente por fertilizantes e pesticidas sintéticos. Estes dois factores criam uma paisagem praticamente sem árvores, sem arbustos, e com um solo esterilizado de substâncias necessárias aos insetos, afirma Sanchez-Bayo ao Guardian. O estudo destaca ainda como causas adicionais fatores biológicos, como novos organismos patogénicos e espécies invasivas, e as mudanças climáticas.

Estes dados reforçam a tese, avançada por diversos cientistas, de que o planeta está a aproximar-se ou já está a viver uma era de extinção em massa de espécies. Seria a sexta dessas eras na história do planeta, seguindo-se à extinção do Cretáceo-Paleógeno, a mais "recente", quando os dinossauros desapareceram há 66 milhões de anos.

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