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“O que nos une é o respeito, a dignidade e a justiça”

Marisa Matias diz que “quem está a construir a União Europeia está a querer dividir-nos”. No domingo, quer levar a votos um projeto de união, porque “ainda está muita luta por fazer e há quem não desista de fazê-la”.
Comício na Alfandega do Porto, Europeias 2019. Foto de Paula Nunes.

No penúltimo dia de campanha, Marisa Matias fez um balanço deste período em que percorreu todo o país, sublinhando que não foi feita "uma campanha de silêncios”. “Nós ouvimos as pessoas, ouvimos muito do caminho que já foi feito mas também muito do caminho que falta fazer”, afirmou Marisa, a quem “fica ainda o amargo de boca de ter de ouvir todos os dias alguém que trabalhou a vida inteira e ainda não tem uma pensão digna”.

Não fizemos uma campanha de silêncios

No entender de Marisa Matias, há muito a dividir a União Europeia: “dividem-nos as regras sem nenhum sentido, que privilegiam uns, muito poucos, e sacrificam outros, as regras que servem o sistema financeiro mas que não protegeram os pensionistas, uma Europa da desumanização, a mesma que permitiu fazer do mediterrâneo o maior cemitério a céu aberto, uma Europa de vencedores e de vencidos”. Lembrou, assim, que “ainda está muita luta por fazer e há quem não desista de fazê-la”.

No entender da eurodeputada, o caminho é o da "união de quem luta e de quem trabalha, a de quem sabe que a Europa pode ser um lugar diferente”.

O projeto de União Europeia que defende é “o que pode unir as pessoas” com “respeito, dignidade e justiça”. Para isso, acredita que é necessário "pleno emprego e o fim da pobreza".

Na reta final desta campanha europeia, a eurodeputada afirma ainda que “as pessoas querem ser ouvidas, não querem ser ouvintes” e afirma ter sido essa a campanha que fez, ouvindo as exigências das pessoas, de “quem sabe que a política, se não resolve as nossas vidas, deveria resolver”. “É para isso que existe a democracia”, concluiu.

José Gusmão: “Aquilo de que precisamos para combater a extrema direita é de mudar a Europa que temos”

O segundo candidato do Bloco afirmou no Porto que esta campanha ficou marcada “por balanços críticos da União Europeia por quem fez a União Europeia e por quem nos cinco anos anteriores nada fez para a transformar”.

Dois grupos sem ideias para mudar a Europa vão juntar-se para fazer um grupo sem ideias para mudar a Europa.

José Gusmão identificou “duas grandes estratégias no centrão político europeu”: o “exército da publicidade, cuja batalha é convencer as pessoas de que as suas vidas estão erradas, convencer os pobres, os desempregados, as pessoas que assistem à destruição dos serviços públicos, à desertificação do interior, que não estão a conseguir perceber como a Europa é um sucesso”; e o "exército do lamento”, aquele de quem “a cada 5 anos reconhece que os problemas não se resolveram, participou nas decisões que fizeram com que tudo ficasse na mesma e diz que a próxima reforma é que vai ser”.

“Agora temos um novo exército: é a frente progressista”, afirmou, explicando que “dois grupos sem ideias para mudar a Europa vão juntar-se para fazer um grupo sem ideias para mudar a Europa. Só que maior”. De acordo com o candidato do Bloco, “na Europa que temos, os progressistas são os que defenderam toda a violência económica e social da política que temos tido da parte das instituições europeias”.

De acordo com José Gusmão, isto acontece “em nome da ideia que a defesa da União Europeia que temos, contra a extrema-direita, se faz mantendo tudo na mesma”, algo que nos deveria levar a um reflexão sobre o que na história recente da Europa fez para que os fascismos voltassem a renascer. A resposta, na sua opinião, está precisamente nessa “Europa desigual, injusta e que propagandeia o seu próprio sucesso perante as suas próprias vítimas”. “Aquilo que precisamos para combater a extrema direita é de mudar a Europa que temos”, contrapôs.

Catarina Martins: “Têm sido as lutas do trabalho a puxar o país para cima”

A coordenadora do Bloco voltou a sublinhar a luta pela dignidade no trabalho, referindo os “trabalhadores da NOS que estão em greve contra o falso outsourcing e salários miseráveis”, os “trabalhadores da Altice, que lutaram contra a transmissão de estabelecimento que é um despedimento encapotado” ou “quem trabalha nos STCP e lutou para que a empresa não fosse privatizada”.

Para Catarina Martins, “têm sido as lutas do trabalho a puxar o país para cima”. “É para quem é mais difícil lutar mas nunca desiste que está toda a nossa solidariedade, pela vida digna, por uma cidadania inteira, para todos. Só esse pode ser o caminho e as eleições europeias são mesmo sobre a dignidade, a igualdade e os direitos”, afirmou.

Bloco tem equipa que responde pelos compromissos, que esteve em todas as lutas

Catarina Martins destacou também que foi o acordo parlamentar alcançado em 2015 que permitiu inverter a "política da humilhação" e “descongelar as pensões, acabar com os cortes inconstitucionais, descer os impostos sobre quem trabalha, acabar com as privatizações, aumentar o salário mínimo nacional" e sublinhou que o Bloco fez tudo o que prometeu, sem nunca se render.

“No domingo, o voto é no Bloco de Esquerda, é na Marisa Matias, é no José Gusmão, é no Sérgio Aires, é em toda uma equipa que responde pelos compromissos, que esteve em todas as lutas", afirmou Catarina Martins.

Sérgio Aires: “Chico Buarque disse uma vez que as pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo de que as coisas não mudem”

Sérgio Aires, terceiro candidato do Bloco nestas europeias, lembrou quando “o impacto da crise internacional - consequência da voragem assassina de especuladores financeiros -, se juntou aos assassinos de uma economia nacional gerida a pensar nos lucros fáceis de uma pequena minoria, até hoje impune pelos seus crimes”. Sérgio Aires contou que está “há 20 anos a lutar contra a pobreza e tinha conseguido ver progressos que se desfizeram em dias” e “retrocessos civilizacionais que se desfizeram em poucos meses e anos”. Para o sociólogo, “em vez de atacarmos as causas, preferimos privilegiar o existencialismo, a emergência social da esmola, as cantinas sociais, de nos fazerem acreditar que fomos nós que vivemos acima das nossas possibilidades”.

O candidato bloquista sublinhou ainda que “por muito que se possa tentar fazer ao nível nacional, haverá sempre limites e obstáculos que moram noutras instâncias supranacionais, porque o sistema que provoca a desigualdade não aprendeu nenhuma lição e a política subjugada à economia continua a conduzir-nos para o abismo”. Citando Chico Buarque, “que disse uma vez as pessoas têm medo das mudanças”, “eu tenho medo que as coisas não mudem”, afirmou.

Pedro Lamares protagonizou um momento de poesia no abrir do comício ao citar Sophie de Mello Breyner Anderson em ‘Nesta hora’: Nesta hora limpa da verdade é preciso dizer a verdade toda / Mesmo aquela que é impopular neste dia em que se invoca o povo / Pois é preciso que o povo regresse do seu longo exilio / E lhe seja proposta uma verdade inteira e não meia verdade / Meia verdade é como habitar meio quarto / Ganhar meio salário / Como só ter direito / A metade da vida.

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