No seu romance “Grandes Esperanças”, Charles Dickens, um dos escritores que melhor retratou o século XIX, apresentava assim o mundo vertiginoso que estava então a surgir.
"Perguntei-lhe qual era a sua profissão. 'Capitalista', respondeu-me. Suponho que me viu percorrer a sala com o olhar, porque prosseguiu: 'Na City. Não me vou contentar em empregar os meus capitais a segurar navios. Vou comprar ações numa boa empresa e conseguir um lugar no conselho de administração. Vou também ocupar-me um pouco de negócios mineiros. E nada disto me impedirá de fretar alguns milhares de toneladas para mim próprio. Creio que farei negócios com as Índias’. E os lucros serão importantes? perguntei. 'Assombrosos', respondeu".
Aquele era de facto um tempo assombroso, com a afirmação da civilização industrial, pujante, no meio de revoluções (1830, 1848, 1871) e guerras, em que nasciam Estados e se formavam nações (a Alemanha, a Itália) e nascia o movimento operário.
Karl Marx (1818-1883) foi o decifrador desse tempo do capitalismo moderno. O enigma que estudou foi este: como é que a mercadoria é produzida? Ou, como é que o trabalho produz valor? Esta continua a ser a questão essencial de todas as questões modernas.
Marx criou o socialismo moderno porque respondeu a essa questão afirmando que o trabalho produz a mercadoria e que há, portanto, um roubo de parte desse valor: o trabalhador só é pago por uma parcela do que produziu e a outra, a mais-valia, é apropriada como lucro. Ora, onde há crime, há criminoso. Marx definiu a sua vida pelo combate contra este crime e pela construção de um movimento de emancipação, o partido do trabalho ou do comunismo.
É certo que o capitalismo, a sociedade adaptativa por excelência, que gera inovação como a sua forma de pulsação, mudou muito desde o século XIX. Mas a questão das questões continua a mesma: tinha Marx razão ao identificar no trabalho humano, no trabalho produtivo direto ou no trabalho intelectual que o estrutura, a origem da acumulação e da repartição desigual que forma as classes sociais? A medir pelas respostas alternativas, que foram sempre fantasiosas, sim. A economia ortodoxa, por exemplo, garante que todos são pagos pelo seu valor, capital e trabalho, e que o mercado, garantindo a apropriação privada da mais-valia do trabalho, é o nome desse equilíbrio. Até afiança que esse equilíbrio será estável, ao arrepio de toda a evidência das grandes crises, como a atual.
De Marx se dirá que foi um filósofo na esquerda do pensamento do seu tempo, herdeiro da revolução francesa, que foi um analista político e um historiador arguto, que foi um economista inspirado, que foi um enciclopedista como poucos e que trabalhou incessantemente. E que foi perseguido pelas dificuldades, que viveu pobre, que só conseguiu publicar em vida uma pequena parte da sua obra. Foi tudo isso, e foi um militante das suas ideias, apaixonado pelos sinais de mudança, pelas lutas coletivas, pela novidade.
Um episódio pouco conhecido da sua vida revela essa paixão. Fascinado pelas ideias de Darwin, Marx enviou-lhe o Capital com uma dedicatória: "Da parte do seu sincero admirador, Karl Marx”. Responde Darwin: "Caro Senhor, agradeço a honra que me fez ao enviar-me a sua grande obra sobre o capital (...). Se bem que as nossas investigações tenham sido tão diferentes, creio que os dois desejamos seriamente a extensão do saber e é isso que, seguramente, fará crescer a longo prazo a felicidade da humanidade".
O marxismo é também este humanismo radical.
Questionário
1 - O lema de Marx era:
A. Devagar se vai ao longe
B. Duvidar de tudo
C. Nada do que é humano me é estranho
2 - Marx preparou o Capital:
A. No Museu Britânico
B. No Speaker’s Corner de Hyde Park
C. No Irish Pub de Soho
3 - Em família, o nome de Marx era:
A. Karl
B. Scorpion
C. Mouro
4 - Quando escreveu sobre o “assalto aos céus”, Marx referia-se:
A. À Comuna de Paris
B. À missa na catedral de Colónia
C. À criação do movimento comunista
5 - O “espetro que ameaça a Europa” era:
A. A crise financeira
B. O comunismo
C. O Império
6 - Qual destes factos é verdadeiro:
A. O avô de Marx, Meier Halevi, era rabi em Trier, a sua cidade natal
B. O pai de Marx, Heinrich Marx, converteu-se ao Luteranismo para poder exercer advocacia
C. A mãe de Marx, Henrietta Pressburg, era da família dos futuros fundadores da Philips
7 - O meio-irmão de Jenny, casada com Karl Marx, foi:
A. Um consagrado poeta
B. O Ministro do interior da Prússia
C. Um dirigente sindical
8 - A tese de doutoramento de Marx era sobre:
A. A diferença entre o capital bancário e o capital financeiro
B. A diferença entre a filosofia da natureza de Epicuro e Demócrito
C. A diferença entre a França e a Prússia
9 - O romance humorístico que Marx escreveu aos 19 anos chamava-se:
A. Escorpião e Félix
B. Tom e Jerry
C. A Rainha Vitória e o seu lacaio
10 - O ano da morte de Marx foi o ano do nascimento de:
A. John Maynard Keynes
B. Joseph Schumpeter
C. Irving Fisher
11 - A “velha toupeira” a que Marx se referia era:
A. A revolução
B. O nacionalismo
C. O internacionalismo
12 - Marx foi correspondente do:
A. The Times
B. New York Daily Tribune
C. The Indian Daily Mail
13 - Marx, no fim da vida, tinha a nacionalidade:
A. Britânica
B. Prussiana
C. Nenhuma
14 - O seu poeta preferido era:
A. Shakespeare
B. Goethe
C. Ésquilo
15 - O seu herói de referência era:
A. Spartacus
B. Lassale
C. Kepler
16 - Exilado em Paris e criando uma revista, os Anais Franco-Alemães, Marx convidou para a redação:
A. Proudhon
B. Blanqui
C. Cabet
17 - A luta nacional que Marx acompanhou com empenho foi a da:
A. Irlanda
B. Índia
C. Polónia
18 - Durante a vida de Marx, decorreu uma guerra que acompanhou com atenção:
A. A guerra do ópio (Inglaterra contra a China)
B. A guerra da secessão norte-americana
B. A guerra franco-prussiana
19 - Marx fez parte de uma organização internacional (1864-1876) que se chamava:
A. Associação Internacional dos Trabalhadores
B. 1ª Internacional
C. Liga dos Comunistas
20 - Ao longo da sua vida, Marx foi expulso da:
A. Prússia
B. Bélgica
C. França
Respostas
1 B; 2 A; 3 C; 4 A; 5 B; 6 Todos; 7 B; 8 B; 9 A; 10 A e B; 11 A; 12 B; 13 C; 14 Todos; 15 A e C; 16 A; 17 A e C; 18 Todas; 19 A; 20 Todas
Também publicado em Carta Maior.