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“O capitalismo do colapso não pode ser o único horizonte dos nossos dias”

O realismo político é hoje sinónimo de colapso climático, sublinhou João Camargo na abertura do Fórum Socialismo 2019. Para enfrentar esse colapso, defendeu uma “estratégia revolucionária” que rompa com o modo de produção capitalista.
João Camargo
João Camargo no Fórum Socialismo 2019. Foto de Paula Nunes

Na sua intervenção na sessão de abertura do Fórum Socialismo 2019, o investigador e ativista pela justiça climática João Camargo acentuou o sentido da urgência e a dimensão da tarefa com que se depara a humanidade para escapar do colapso climático. E fez notar que são ambas incompatíveis com propostas graduais e no atual modo de produção capitalista. Lembrando que as moléculas de dióxido de carbono e metano que são libertadas hoje vão ficar muitos anos na atmosfera, João Camargo sublinhou que “não há forma de negociação com estas moléculas”.

O mesmo se passa com quem detém o poder económico e financeiro no mundo, neste “sistema totalmente dependente de combustíveis fósseis”. “Negociar o fim do capitalismo com capitalistas também é impossível”, contrapôs Camargo, apontando que o relatório do IPCC divulgado o ano passado conclui que
"90% das reservas de petróleo, gás e carvão do mundo, que pertencem às grandes empresas e famílias mais ricas do mundo, não podem ser tocados". Ou seja, “isto é a negação do capitalismo” e pressupõe “a maior transferência de poder alguma vez ocorrida” no mundo.

Enquanto os capitalistas “tentam gerir esta contradição”, dizendo que ainda há muito tempo ou que o setor privado pode liderar a transição, ou ainda que as inovações tecnológicas vão salvar-nos, ou que até pode não se passar nada, à esquerda também há quem veja o tema como “business as usual”, criticou o investigador e ativista.

“Pode negociar-se com empresas como a Exxon ou a Mobil, mas elas têm de ser fechadas. Pode falar-se com a EDP, mas ela tem de ser nacionalizada. A produção dominada pelo capital exige uma expansão crescente, novos consumos e valores de uso”, algo incompatível com o metabolismo natural e social que “não é capaz de acompanhar essa velocidade sem entrar em colapso”.

“Temos um alarme de dez anos para mudar tudo. A luta não continua. Precisamos de ganhar e ganhar rápido”, insistiu, rejeitando a possibilidade de o mundo poder “arriscar ir até aos 2ºC [a meta do aumento da temperatura média global fixada no Acordo de Paris] e esperar que tudo pare”.

“Políticas graduais são a garantia do colapso”, prosseguiu Camargo, mas a resposta à emergência climática também se mede nas posições políticas assumidas em vários temas: “Leis que travam refugiados são leis climáticas. Leis que permitem aeroportos, turismo de massa, comércio livre são leis climáticas. Mas são leis a favor das alterações climáticas”, que “tanto são aprovadas por Trumps ou Bolsonaros como por Costas, Trudeaus ou Merkels”.

Sublinhando que “não há paralelo histórico para o que tem de ser feito”, João Camargo defendeu que “a única luta que pode conter o colapso climático é a luta anticapitalista e a única estratégia para ganhar a luta é revolucionária”, por oposição ao “realismo político” que hoje é sinónimo de “colapso climático”. E “o capitalismo do colapso não pode ser o único horizonte dos nossos dias”, concluiu.

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