Num comunicado divulgado esta quinta-feira, a MUTIM – Mulheres Trabalhadoras das Imagens em Movimento, uma associação de mulheres que trabalham no cinema e audiovisual em Portugal fundada em 2022, critica a falta de paridade e de representação na constituição do júri que avalia as candidaturas aos concursos de Apoio Financeiro ao Cinema e ao Audiovisual do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), que abriram a 20 de fevereiro de 2024, com uma dotação total de 29 milhões seiscentos e cinquenta mil euros, distribuída por 29 concursos.
“Embora exista paridade relativa entre jurados e juradas nos concursos no seu todo (56% de homens e 44% de mulheres), 14 concursos têm uma maioria de homens jurados, mas apenas 5 uma maioria de mulheres juradas”, lamenta a MUTIM em comunicado.
“Em alguns dos mais importantes concursos de apoio à produção, incluindo Primeiras Obras de Longas-Metragens de Ficção, 2.ª Longas-Metragens de Ficção e 2.ª Documentários Cinematográficos, os júris são compostos por 4 homens e 1 mulher. O financiamento total a atribuir nestes concursos será superior a 6.6 milhões de euros. Pelo contrário, apenas dois concursos serão avaliados por júris compostos por 4 juradas e 1 jurado: Curtas-Metragens de Animação para Cinema e Produção de Obras Audiovisuais e Multimédia – Animação, que em conjunto atribuirão um montante três vezes inferior ao dos concursos antes referidos.”
A associação critica que a atribuição de financiamento ao sector do Cinema e do Audiovisual em Portugal continue a “perpetuar a desigualdade que o caracteriza”, exigindo uma mudança de paradigma de quem avalia e atribui os financiamentos aos projetos do cinema português, num sector ainda muito patriarcal. A MUTIM continuará a lutar por uma “maior igualdade, diversidade e paridade no sector” que “enriquecerá todos sem excepção, e muito em particular as histórias, os olhares e os percursos da imagem em movimento em Portugal.”
Contudo, a MUTIM felicita o ICA pela “abertura atempada dos concursos e o volume do financiamento a atribuir, superior a 29 milhões de euros.”
“O aumento do apoio a atribuir por projeto, nomeadamente para a produção de longas-metragens de ficção para cinema e projetos audiovisuais de ficção e documentário, é uma boa notícia para o sector, que tem vindo a crescer e diversificar-se nos últimos anos. No entanto, esse crescimento não se fará, nem ao ritmo desejado, nem de forma sustentável, se a enorme desigualdade que o caracteriza não for atenuada.”
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