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Museu Berardo recusa terminar parceria com “cúmplices da limpeza étnica na Palestina”

O Museu Berardo recusou o pedido do Comité de Solidariedade com a Palestina para pôr termo à sua parceria com o Israel Museum, construído em território ocupado e com peças pilhadas aos palestinanos.
Joe Berardo e Adina Kamien-Kazhdan, curadora desta exposição, durante a inauguração que decorreu a 28 de fevereiro. Foto Museu Berardo/Facebook

Para o Comité de Solidariedade com a Palestina, é “no mínimo tristemente irónico” que a exposição do Museu Berardo em parceria com o Israel Museum, que acusa de ser “uma das instituições cúmplices da limpeza étnica na Palestina e dos crimes de guerra aí cometidos, se intitule ‘No Place Like Home’”.

Os ativistas recordam que “o Israel Museum foi construído sobre a localidade palestiniana de Sheikh Badr, cuja população foi expulsa em 1948”, e que para além de ter confiscado ilegalmente esses terrenos também é cúmplice “por se ter apropriado de roupas e outros bens pessoais saqueados das casas dos refugiados após a sua fuga”.

“O Israel Museum é também cúmplice no crime de pilhagem, pois alberga nas suas instalações os manuscritos do Mar Morto roubados de Jerusalém Oriental em 1967, em violação da Convenção de Haia de 1954 para a protecção da propriedade cultural em conflitos armados”, prossegue o Comité na sua carta dirigida à direção do Museu Berardo a 13 de março.  

O pedido para o fim da parceria com esta “instituição cúmplice da ocupação, colonização e apartheid israelita” surge num momento em que cresce a condenação internacional à expansão acelerada de colonatos ilegais em território palestiniano e no ano em que se assinalam “os 70 anos da constituição de Israel sobre o território de onde foram expulsos cerca de 700.000 palestinianos e cometidos vários massacres”.

“A cooperação com instituições cúmplices da colonização e do apartheid israelitas só pode contribuir para o prolongamento da injustiça imposta ao povo palestiniano, normalizando-a, e portanto legitimando-a”, conclui o Comité, alertando que esta parceria “vem denegrir o seu bom nome e prestígio e viola o código de ética para museus elaborado pelo Conselho Internacional dos Museus”.

A resposta do diretor-geral da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea - Coleção Berardo foi recebida dias depois e agora divulgada pelo Comité, que a considera “um exemplo do apoio ao branqueamento dos crimes de guerra perpretados pelo Estado de Israel e o seu exército”.

Nessa carta, Pedro Bernardes afirma que a exposição se integra “nos fins para que foi instituída a Fundação e resulta de uma colaboração com o prestigiado Israel Museum” e que a Fundação “não toma posições sobre questões políticas por tal não se enquadrar nos fins para que foi criada”.

Quanto ao polémico título da exposição patente no museu até junho, com o apoio da embaixada de Israel e da IKEA, o responsável da Fundação diz que ele “tem única e exclusivamente ligação com o tributo a Duchamp e ao seu gesto, então revolucionário, de tratar os objectos do quotidiano como arte” e que a exposição “reproduz o ambiente de uma casa e não de um qualquer território".

A resposta do Museu Berardo termina com um convite aos membros do Comité de Solidariedade com a Palestina para participarem numa visita guiada à exposição, para conhecerem melhor “as fortes motivações culturais que levaram à realização desta exposição e a esta parceria” e despede-se com a promessa de vir a considerar uma eventual proposta para acolher uma exposição temporária do Palestinian Museum.

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