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Morreu o realizador que “nunca se arrependeu de nada”
Scola, de 84 anos, abandonou a carreira cinematográfica em 2011 mas dois anos depois apresentou no Festival de Veneza o filme intitulado Que Estranho Chamar-se Federico, um filme que cujo objectivo era prestar homenagem a Federico Fellini tendo, por isso, recorrido, a imagens de arquivo.
Recorde-se que em 2011, o realizador disse ao jornal italiano Il Tempo que dizia adeus ao cinema "sem se arrepender de nada" depois de uma carreira de mais de 50 anos e mais de 40 filmes realizados. Explicou na altura já não se sentir “sincronizado” com a indústria cinematográfica.
E acrescentava: "A minha experiência no mundo da realização já não é o que costumava ser: descontraída e feliz. Hoje há lógicas de produção e distribuição com as quais não me identifico", disse nessa entrevista, acrescentando que no cinema é fundamental ter-se liberdade de escolha. "Estava a começar a sentir-me obrigado a respeitar regras que não me permitiam sentir livre".
O estrangulmento da criatividade
Nas suas declarações deixou ainda clara a sua desilusão, considerando que já não havia lugar para a criatividade como antigamente.
"A crise económica veio agravar ainda mais a situação. Tendo em conta a minha idade, sei que fiz o que devia. Não me arrependo de nada. Trabalhei sempre com uma grande liberdade. Numa certa altura, chega o momento em que o melhor a fazer é retirar-me", sublinhou.
Já em 2009 tinha dito ao jornal La Repubblica estar num momento da vida em que o cinema contemporâneo já pouco lhe dizia. “Prefiro gozar a minha velhice”.E garantiu estar a viver “um momento belíssimo”.
Ettore Scola nasceu a 10 de Maio de 1931, em Trevico, Itália. Após da Segunda Guerra Mundial foi viver para Roma, onde estudou Direito. Contudo, o gosto pela escrita criativa e pelo cinema foi mais forte e, em 1953, iniciou a sua carreira na indústria cinematográfica como argumentista, depois de ter trabalhado como humorista em algumas revistas onde conheceu Fellini, e é sobre esses anos que fala em Que Estranho Chamar-se Federico. Durante 10 anos, contribuiu com material para inúmeros filmes de Dino Risi e de outros realizadores, tendo ainda colaborado com Ruggero Maccari, destacando-se desta parceria a comédia Il Magnifico Cornuto (1964), com Claudia Cardinale. Em 1964, estreou-se como realizador com Se permettete parliamo di donne.
Em 1974, atingiu o sucesso internacional com filme Tão Amigos Que Nós Éramos, um retrato da sociedade italiana no pós-guerra, dedicado ao seu amigo, ator e realizador Vittorio de Sica. Dois anos depois, ganhou o prémio de Melhor Realizador no Festival de Cannes, com Feios, Porcos e Maus, o seu título mais conhecido.
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