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Montanha de ouro: a mina na Guiana que é um desastre ambiental anunciado

De entusiasta do projeto, o presidente francês passou a ser crítico. Mas os ambientalistas sublinham que faz pouco contra a mineração predatória na região amazónica. Entretanto outro projeto chamado Esperança foi aprovado e mais de meio milhão de pessoas assinaram uma petição para por fim a esta atividade.
Manifestação contra a Montanha de Ouro. Abril de 2019. Foto da Or de question/Facebook.
Manifestação contra a Montanha de Ouro. Abril de 2019. Foto da Or de question/Facebook.

Primeiro, Macron, quando era ministro da Economia de François Hollande e mesmo depois de já ter sido eleito presidente de França, em outubro de 2018 numa visita à região, era um entusiasta confesso do projeto de construção de uma mina a céu aberto na Guiana francesa para extrair 85 toneladas de ouro em 800 hectares da floresta amazónica nas redondezas de duas reservas ecológicas. Apesar desta extração constituir um perigo também ele aberto de desflorestação e para a biodiversidade. Depois, em maio de 2019, pressionado pela agenda ecológica declarou que deixou de o ser. Mas o processo já estava em curso e os tribunais deram luz verde.

Segundo o Libération, o governo francês vai recorrer da decisão do tribunal administrativo de Cayenne que o obriga a prolongar as concessões mineiras porque este projeto “tal como está apresentado não é compatível com as suas ambições em matéria de ambiente” dizem em comunicado conjunto os ministros da Transição Ecológica, do Ultramar e da Indústria.

Os movimentos ambientalistas desconfiam das intenções do governo e da sua postura em tribunal. Marine Calmet, porta-voz do coletivo Or de Question diz que “o governo não apresentou nenhum argumento probatório contra o recurso da empresa” o que “deixa pensar que não queria pronunciar-se sobre o projeto para se deixar obrigar pela justiça”. Como o recurso “não tem efeitos suspensivos”, esclarece a também jurista, o julgamento do recurso demorará “um ano e meio” correspondendo assim na prática a uma prorrogação da licença. Os ambientalistas, pelo contrário, exigem uma anulação da concessão ao consórcio russo-canadiano Nordgold-Columbus Gold e, em geral, uma moratória a extração mineira na região.

Outra das razões de suspeita sobre governo é a reforma do código de minas do país. O ministro François de Rugy vai adiando o processo que supostamente deveria integrar as dimensões ambientais num regulamento antigo. Enquanto não é implementada o projeto permanece enquadrado pelas regras em vigor.

Mais de meio milhão contra a exploração de ouro na Guiana

Os movimentos ecologistas lançaram uma petição contra a exploração de ouro na Guiana francesa que conta com mais de meio milhão de assinaturas. Até porque há várias outras concessões em causa no território ultramarino francês para além da detida pela Montanha de Ouro que ameaçam 360.000 hectares de floresta.

Em tribuna de opinião no jornal Libération, várias organizações, ambientalistas e responsáveis políticos criticam que tudo continue igual no que diz respeito às empresas mineiras. Em maio de 2020, um novo projeto de mineração da Compagnie Espérance foi autorizado pela comissão de minas francesa. Isto apesar dos seus dirigentes “estarem a ser processados pela Procuradoria de Cayenne por poluição ambiental”. Este deixará “um buraco de 1,5 quilómetros de largura e de 300 metros de profundidade na floresta amazónica, numa zona entre o Parque natural amazónico e o domínio florestal permanente da Guiana”.

Critica-se, acima de tudo, o “modelo de lucro a curto prazo, de mercantilização da vida e de enriquecimento de alguns em detrimento da proteção dos comuns e das gerações futuras” e pretende-se acabar com toda esta “indústria poluente”.

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