Moedas contradiz-se sobre a dívida na Universidade de Verão do PSD

28 de agosto 2013 - 1:37

O braço-direito de Passos Coelho para negociar com a troika explicou esta terça-feira aos militantes laranja que "as dívidas têm que ser todas pagas" pelo país. Mas o mesmo Carlos Moedas dizia em 2010, quando a dívida era muito menor, que a única saída de Portugal era dizer aos credores que não a podia pagar, abatendo 20% a 30% da dívida do país.

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Carlos Moedas defendia reestruturação da dívida em 2010. Depois, foi para o governo para ajudar a troika a aumentá-la ainda mais... Foto José Sena Goulão/Lusa

“As dívidas têm que ser todas pagas, os países têm que pagar as dívidas e é importantíssimo que isso fique claro, que o esforço que os portugueses estão a fazer é para termos essa credibilidade”, disse o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro esta terça-feira em Castelo de Vide, citado pela agência Lusa. Falando para uma plateia de militantes que assistiram à Universidade de Verão do PSD, Carlos Moedas reforçou o argumento, defendendo que "daí depende a nossa credibilidade para o futuro para que o país, no futuro, possa ter acesso aos mercados”.

Moedas respondia a uma questão sobre as declarações de José Sócrates em 2011, após a derrota eleitoral, quando disse a estudantes em Paris que "pagar a dívida é uma ideia de criança". Mas o próprio Carlos Moedas já tinha defendido o mesmo um ano antes de Sócrates, ao estrear-se no blogue 31 da Armada com um texto intitulado "Será que a dívida nos vai matar ou nós é que vamos matar a dívida?".

Quando Carlos Moedas escreveu esse artigo, em maio de 2010, a dívida pública estava a crescer de 89% do PIB português, em 2009, para 93% no fim de 2010. E o atual negociador português com os técnicos da troika defendia então que "só nos resta (a nós e a outros) o possível caminho da reestruturação da dívida.  Ou seja, ir falar com os nossos credores e dizer-lhes que dos 100 que nos emprestaram já só vão receber 70 ou 80".

"Se mantivermos os níveis actuais de dívida, dificilmente conseguiremos crescer a níveis aceitáveis… e se não crescermos morremos", avisava Carlos Moedas em 2010. Mas desde que chegou ao Governo, logo no ano seguinte, os níveis da dívida pública portuguesa dispararam para os 130% do PIB e as medidas de austeridade que já defendia em 2010 como "necessária e urgente" comprometeram ainda mais a capacidade da economia crescer. E a recessão em que o país mergulhou com a receita da troika, negociada e aplicada em primeira mão por Moedas nas sucessivas "avaliações" trimestrais, não parece ajudar à "credibilidade" junto dos credores, tão elogiada pelo governante em Castelo de Vide.

Os participantes da Universidade de Verão ficaram sem saber o que fez Carlos Moedas mudar de posição em dois anos sobre a dívida, para além de ter passado a integrar um governo que se serve dela como argumento para impor uma agenda política de privatizações, descida de salários e desmantelamento dos serviços públicos, tudo em linha com a troika. Mas a pergunta que dava o título ao seu artigo de 2010 mantém-se em 2013 mais atual que nunca.