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Ministério revela dados preocupantes sobre saúde mental nas escolas

Um terço dos alunos e metade dos professores apresentam sinais de sofrimento psicológico, revela o primeiro estudo realizado pelo Ministério da Educação sobre a saúde mental na escola pública.
Foto de Paulete Matos.

O Ministério da Educaão apresenta esta terça-feira as conclusões do estudo “Saúde Psicológica e Bem-estar”, o primeiro que a tutela realiza junto de alunos e professores da escola pública portuguesa.

Segundo as conclusões citadas pelo Público, “cerca de um terço dos alunos acusa sinais de sofrimento psicológico e défice de competências socioemocionais em pelo menos uma das medidas consideradas, apresentando sinais de sofrimento psicológico a exigir atenção” e recursos “para lhes fazer face”. Entre um terço e um quarto dos alunos mais velhos respondeu que sente tristeza várias vezes por semana ou quase todos os dias, mas também irritação, mau humor ou nervosismo. No entanto, 71% afirmam sentir-se calmos e tranquilos pelo menos metade do tempo. O agravamento nos resultados é visível com o passar dos anos de escolaridade, mas também com o o acumular de tempo de serviço no caso dos professores. O estudo destaca ainda que as alunas do 3º ciclo e secundário obtêm valores menos favoráveis que os rapazes quanto às dimensões do stress, depressão e nos valores totais.

43% dos alunos afirmam sentir-se "muito tensos" quando estudam para testes, 59% preocupam-se muitas vezes com as coisas e 21% afirmam ter dificuldade em fazer amigos.  A ansiedade nos momentos de avaliação não é uma novidade, diz a coordenadora científica do estudo. "Já temos vindo a falar disso, da questão da quantidade de jovens que não têm o sucesso escolar que deveriam ter por causa da ansiedade nos testes. Os miúdos referem muito que é como se estivessem a trabalhar para os testes em vez de trabalharem para aprender”, referiu Margarida Gaspar de Matos.

Também não é novidade que a pandemia afetou negativamente a vida dos alunos, com pouco mais de um terço a referir que a vida na escola ficou pior ou muito pior desde a pandemia e cerca de um quinto a concluir o mesmo em relação à vida com os amigos e 28,4% em relação à vida consigo mesmo. Já quanto à vida em família, mais de metade não sentiu grande diferença e refere que ficou na mesma.

Metade dos professores com dificuldade em adormecer

Quanto aos professores, o caso é mais grave, com mais de metade a admitirem sentir-se nervosos, tristes, irritados ou de mau humor pelo menos uma vez por semana. Metade dos docentes diz ter dificuldade em adormecer. Apesar disso, mais de metade refere um grau de satisfação com a vida superior a sete (numa escala de 0 a 10) e oito em cada 10 docentes afirma estar satisfeito com o trabalho na escola. O impacto negativo da pandemia na classe docente também parece ser maior do que entre os alunos. Mais de dois terços dizem que a sua vida ficou pior ou muito pior com os amigos (70,1%) e na escola (68,6%).

Para responder ao panorama revelado por este estudo, que para a sua responsável “não é uma catástrofe, é só um período de alguma vulnerabilidade que vai precisar de ações”, há medidas que poderão em breve arrancar, como a da introdução de “uma espécie de currículo para as competências socioemocionais, não no sentido formal, mas sim na disponibilização de muitos materiais já testados para poderem ser aplicados nas escolas”. A Fundação Gulbenkian, que participa neste grupo de trabalho, quer ciar uma rede de formadores para as competências socioemocionais, dado que o estudo também conclui que "os professores com níveis mais baixos de literacia emocional e saúde psicológica têm alunos mais indisciplinados e com menores níveis de bem-estar, competências socioemocionais e aproveitamento escolar”.

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