Está aqui

Mil milhões de afetados pela subida dos oceanos dizem especialistas da ONU

O mais recente relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, conhecido esta quarta-feira, alerta para que a subida do nível do mar, que acontece agora ao dobro do ritmo do século XX, pode vir a afetar mais de mil milhões de pessoas.
Foto de Craig Desjardins. Flickr.

“As escolhas feitas agora são críticas para o futuro do nosso oceano e da criosfera”. Este é o título do resumo que apresenta o mais recente relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas da ONU (IPCC) em que os cientistas se focam nos efeitos das alterações climáticas nas regiões costeiras e nas regiões da superfície terrestre cobertas por gelo.

Apresentado esta quarta-feira no Museu Oceanográfico do Mónaco, o Relatório Especial sobre o Oceano e a Criosfera num clima em Mudança é não surpreendentemente preocupante. Com o aumento das temperaturas globais acima 1ºC do nível pré-industrial, as consequências já estão a ser “profundas”. O oceano está “mais quente, mais ácido e menos produtivo”. Os glaciares e outras zonas geladas, às quais o texto chama criosfera, a partir do grego kryios que significa frio ou gelo, estão a derreter fazendo aumentar o nível do mar. No futuro, aumentarão as inundações costeiras extremas, as tempestades tropicais e haverá menos biodiversidade.

Contam-se em cerca de mil milhões as pessoas que vivem nas zonas que serão afetadas. As zonas costeiras e zonas montanhosas geladas têm 680 e 670 milhões de habitantes respetivamente. Quatro milhões de pessoas vivem permanentemente no Ártico e 65 milhões nas pequenas ilhas em risco.

Segundo o texto, a partir de 2050 “há eventos extremos de subida do mar que são historicamente raros – acontecem uma vez por século no passado recente – que se estima que comecem a acontecer com mais regularidade – pelo menos uma vez por ano”. Estes eventos extremos, que acontecem durante marés altas, trombas de água e tempestades intensas, irão já, diz o estudo, ocorrer em qualquer cenário de emissão de gases com efeito de estufa pelo que é preciso “investimento significativo” em adaptações.

Os efeitos extremos acontecerão sobretudo em regiões tropicais. Mas Portugal também se encontra entre as regiões afetadas. Aliás, o presidente do IPCC, Hoesung Lee, na apresentação do documento sublinhou o caráter global destas consequências: “o mar aberto, o Ártico, o Antártico e as altas podem parecer muito distantes para muitas pessoas mas dependemos deles e somos influenciados por eles diretamente e indiretamente de muitas formas – através do temperatura e do clima, para a comida e água, energia, comércio, transporte recriação e turismo, saúde e bem-estar, cultura e identidade.”

A conclusão do relatório também não surpreende. É necessário a priorizar ação coordenada, ambiciosa e atempada para “lidar com mudanças sem precedentes e de longa duração nos oceanos e na criosfera”, reduzindo urgentemente as emissões de gases com efeito de estufa.

Riscos nas montanhas, consequências nas zonas mais baixas

Os 195 membros do IPP aprovaram este estudo de referência da autoria de 104 cientistas de 36 países que trabalharam com a mais recente e relevante literatura científica, referenciando 6981 publicações.

Um dos seus eixos é a análise dos efeitos das alterações climáticas nas zonas de altas montanhas. Deslizamentos de terras, avalanches, inundações são consequências diretas do aumento da temperatura. Também a acessibilidade à água se irá alterar, afetando, por exemplo, a agricultura. Efeitos nas atividades de recreio, turismo e culturais são indiretos mas terão forte peso económico.

E os efeitos também escorrerão para as zonas menos elevadas. Com o derretimento do gelo virá o aumento do nível dos mares. A um ritmo inédito: durante todo o século XX, o nível do mar subiu cerca e 15 centímetros; agora a subida acontece duas vezes mais rápido, 3.6 milímetros por ano, e continua a acelerar. Mesmo no melhor dos cenários, em que as emissões de gases com efeito de estufa fossem reduzidas fortemente, em 2100 os mares teriam subido 30-60 centímetros. Se continuarmos na mesma via até agora seguida a subida será de entre 60 a 110 centímetros. Trata-se de uma revisão em alta das anteriores perspetivas que irá tornar várias nações insulares inabitáveis.

Biodiversidade em causa

O aumento da temperatura dos mares e as alterações químicas, com acidificação, redução de oxigénio e de nutrientes, estão mudar também os ecossistemas marinhos com impactos nas cadeias alimentares até aos humanos. As comunidades mais dependentes da pesca irão ressentir-se, como riscos económicos e nutricionais elevados.

As ondas de calor marinhas duplicaram de frequência desde 1982. E se as emissões de gases com efeito de estufa continuarem a um ritmo semelhante ao atual irão ser 50 vezes mais.

Termos relacionados Greve climática estudantil, Ambiente
(...)