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Merkel vence eleições, mas solução de governo permanece em aberto

O desfecho da noite eleitoral na Alemanha originou uma incógnita: a CDU/CSU venceu, mas com um dos resultados mais baixos de sempre (33%) e parece estar limitada a um acordo de coligação com os Verdes e os liberais do FDP. O partido da esquerda, Die Linke, subiu e obteve 9,2%. Partido da extrema-direita, AfD, tornou-se na terceira força política e entrou no Bundestag.
Angela Merkel parece estar limitada à procura de um acordo de coligação com os Verdes, que tiveram 8,9 por cento dos votos, e com os liberais do FDP, que obtiveram 10,6 por cento. Foto de Christian Bruna, EPA/ LUSA.
Angela Merkel parece estar limitada à procura de um acordo de coligação com os Verdes, que tiveram 8,9 por cento dos votos, e com os liberais do FDP, que obtiveram 10,6 por cento. Foto de Christian Bruna, EPA/ LUSA.

Este domingo, a Alemanha foi a votos e os resultados estão perto do que se previa, mesmo aqueles que não se podiam esperar: um partido abertamente xenófobo e racista, a Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla alemã), tornou-se na terceira força política (12,6 por cento dos votos) e ganhou representação no Bundestag, com 94 mandatos, mais do que o total de mandatos perdidos por Merkel. Nas eleições de 2013, obteve 4,7 por cento. É a primeira vez que na história da Alemanha, após a II Grande Guerra, uma força claramente de extrema-direita chega ao Parlamento.

Entretanto, a co-líder da AfD, Frauke Petry, anunciou de surpresa a decisão de não exercer o mandato no grupo parlamentar do seu partido, o que a tornará automaticamente numa deputada independente. “Decidi, após uma cuidadosa reflexão, que não me sentarei com o grupo parlamentar [da AfD]”, disse aos jornalistas, em Berlim, no dia seguinte às eleições. Petry posicionava-se na ala alegadamente "mais moderada" dentro do partido de extrema-direita.

As razões sociais e políticas que levam a esta ascensão (ou o seu regresso) da extrema-direita, no contexto alemão, terão de ser analisadas. Um dado a considerar: as localidades onde a população imigrante está mais concentrada não foram as que registaram a maior votação no partido xenófobo e racista.

Segundo os dados mais atualizados, nas eleições deste domingo, a CDU/CSU de Angela Merkel venceu as eleições (com 33 por cento dos votos), corroborando as previsões, mas com um dos resultados mais baixos da história do partido, o menor foi apenas em 1949, quando obteve 31 por cento. Assim, perdeu quase nove pontos percentuais e 65 mandatos no Bundestag. Nas últimas eleições, há 4 anos, tinha conseguido 41,5 por cento e 311 lugares no parlamento alemão.

O SPD também sofreu perdas consideráveis, somando apenas 20,5 por cento dos votos e 153 mandatos. Em 2013, obteve 25,7 por cento e 192 lugares. Martin Schulz interpretou o resultado como um voto contra a "grande coligação" com a CDU/CSU Merkel e anunciou o fim do acordo de Governo, que assumiu os destinos da Alemanha nos últimos quatro anos (e também durante o mandato de 2005-2009).

Distribuição dos mandatos no parlamento alemão. Fonte: Deutscher Bundestag.

Assim, Angela Merkel parece estar limitada à procura de um acordo de coligação com os Verdes, que tiveram 8,9 por cento dos votos (8,4 por cento, em 2013), e com os liberais do FDP, que obtiveram 10,7 por cento (4,8 por cento, em 2013). Porém, as posições eurocépticas dos liberais são apontadas como um dos possíveis e vários obstáculos à chamada coligação "Jamaica", uma solução de governo que configura um cenário inédito na política nacional alemã.

O partido da esquerda, Die Linke, subiu em percentagem e número de mandatos, obtendo 9,2 por cento dos votos e 69 mandatos no  Bundestag, mais 5 do que em 2013 (na altura, obteve 8,6 por cento dos votos).

Resultados mostram “o quão profundas são as atuais divisões económicas e sociais na Alemanha”

Gabi Zimmer, membro do Die Linke e Presidente do GUE/NGL, o grupo parlamentar europeu da esquerda, do qual o Bloco faz parte, afirmou que as eleições parlamentares alemãs mostram “o quão profundas são as atuais divisões económicas e sociais na Alemanha” e que “a 'grande coligação' pagou as suas políticas com enormes perdas”.

Num comunicado, deixou ainda o aviso: “Após a eleição de Macron como Presidente da França, muitos se animaram com a ideia de que o avanço da extrema-direita na União Europeia tinha parado e a crise terminado. Hoje, provou-se que estavam errados. As eleições alemãs são um último apelo para a necessidade de uma reviravolta social de 180 graus, na Alemanha e na UE!”.

Sobre os “bons” resultados do seu partido, Die Linke, afirmou ainda que “temos uma voz forte na luta para superar as divisões sociais da Alemanha, e contra a xenofobia e o egoísmo nacionalista na Europa”.

A participação nas eleições deste domingo atingiu os 76,2 por cento (em 2013, foi 71,5 por cento; em 2009, foi a mais baixa de sempre, 70,8 por cento). O parlamento alemão é agora constituído por 709 lugares, mais 78 do que em 2013 (o número mínimo de mandatos é 111).

Bloco diz que resultado é “um enorme sinal de alerta” sobre situação europeia

"Os resultados das eleições na Alemanha são um enorme sinal de alerta, se é que precisávamos de mais algum, sobre a situação na Europa", afirmou Catarina Martins, em declarações aos jornalistas, à margem de uma ação de campanha autárquica, no Montijo, distrito de Setúbal.

O “centrão”, na opinião da Coordenadora do Bloco, "não dá resposta à expectativa de vida das pessoas" e esse descontentamento está a ser aproveitado pela extrema-direita, o que é muito preocupante. "De facto, a precarização do trabalho, o facto de gerações não verem capacidade de terem estabilidade na sua vida - mesmo na Alemanha, a grande beneficiária do Euro - faz com que a extrema-direita possa cavalgar o descontentamento e crescer", avisou.

Segundo Catarina, se "na Alemanha não há o problema de desemprego que há noutros países, como por exemplo, em Portugal, há o problema da enorme precarização do trabalho”. “Isto demonstra a necessidade de uma alternativa verdadeira na Europa, que deixe este modelo neoliberal de privatização de serviços públicos, precarização do trabalho, que de facto está a destruir qualquer possibilidade de paz e coesão na Europa", defendeu.

Notícia atualizada às 13h25.

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