Jaurès nasceu em Castres, estudou Filosofia na École Normale Supérieure, tornando-se professor do ensino secundário em 1881.
Não estava destinado a tornar-se um porta-voz da classe trabalhadora. A sua iniciação política foi ainda realizada sob os auspícios do republicanismo. Professor da Universidade de Toulouse, passa a ser deputado de centro-esquerda do Tarn, em 1885. Perde as eleições de 1889, e dedica-se plenamente ao seu doutorado sobre "as origens do socialismo alemão". Trabalhando ao mesmo tempo como jornalista no periódico La Dépêche du Midi a partir de 1887, a sua experiência como vereador e em seguida como vice-prefeito encarregado do ensino público em Toulouse, faz com que se aproxime cada vez mais do socialismo. Eleito, após a greve dos mineiros, deputado de Carmaux (1893), torna-se aderente do Partido Operário Francês.
Em 1902, participa da criação do Partido Socialista e apoia o Bloco das Esquerdas. O seu próximo passo consiste na criação de L'Humanité(1904), "jornal diário socialista", que utiliza como ferramenta na constituição da Secção Francesa da Internacional Operária (SFIO, 1905), condenando então, em nome da unidade socialista, todo e qualquer apoio ao governo (em 1920, após a separação entre a SFIO e o Partido Comunista Francês, o L'Humanité passou a ser o órgão oficial deste último).
Jaurès em Lisboa
Jean Jaurès visitou Lisboa, em Julho de 1911, sendo recebido entusiasticamente na Assembleia Constituinte durante uma sessão, dirigindo da tribuna dos diplomatas um sonoro “Vive la République”, secundado por todos os parlamentares portugueses. Em 24 de Julho de 1911, escreve um editorial com grande destaque na 1ª página do L`Humanité, defendendo a revolução republicana portuguesa, contra os seus detratores na Europa. Ao jornal A Capital de 20.07.1911, Jaurès declara que “a República é a porta do progresso” e que se impõe aos republicanos “um constante contacto com o povo”. Acrescenta ainda que “sem esse contacto a República seria uma falsidade”.
[caption align="right"] Jaurés em Lisboa, falando com João Chagas e Bernardino Machado, junto ao parlamento, em julho de 1911[/caption]
Quando eclodiu em Portugal, a greve geral de janeiro de 1912, em protesto contra a repressão dos rurais alentejanos, o L`Humanité dá grande relevo ao movimento operário em Portugal.
A greve surge nas páginas do L`Humanité em 26 de janeiro de 1912, numa notícia sob o título “Em Portugal – Uma Greve Sangrenta”, relatando a morte e os feridos de Évora, referindo ser “intolerável que esta guarda dita republicana, imite os procedimentos da antiga Guarda Municipal, agindo sempre com uma brutalidade inusitada quando intervém nos conflitos operários”.
A 29 de janeiro, refere que, segundo um despacho da Agência Havas, “os trabalhadores rurais expulsos de Évora e refugiados na montanha, defendem-se a tiro da tropa que os persegue”. A 30 de Janeiro, numa notícia datada do dia anterior, titula “Depois dos acontecimentos de Évora – Greve Geral de Protesto”, informando que “a Federação dos Sindicatos Operários proclamará hoje a greve geral, na sequência dos acontecimentos de Évora”.
Em 1 de Fevereiro, o L`Humanité, dá relevo de título de 1ª página aos acontecimentos “A Situação em Portugal – os acontecimentos tomaram subitamente uma extensão considerável e provocam uma viva agitação”. Neste artigo pergunta-se ao Presidente do Ministério português, “será que o senhor Vasconcelos crê, por acaso, que a melhor maneira de defender a República é dar presentes aos patrões à custa da classe operária?”.
No dia 3 de fevereiro, também na 1ª página, o L`Humanité titula “O Terror Burguês em Lisboa – os grevistas serão julgados em Conselho de Guerra”. O jornal mostra o seu claro desagrado sobre a aprovação na Câmara dos Deputados, em Lisboa, de “uma proposta de lei draconiana submetendo a julgamento em Conselho de Guerra os trabalhadores presos”. Prossegue no mesmo sentido afirmando que, mesmo tendo em conta as dificuldades que enfrenta o novo regime, os dirigentes republicanos portugueses “com o rigor extremo que mostram para com os proletários, aqueles que instauraram a República, favorecem estupidamente a restauração monárquica.”
“O capitalismo traz a guerra…”
[caption align="left"] Discurso de Jaurés, em 1913, contra o serviço militar obrigatório de 3 anos[/caption]
Poucos dias antes do início da Primeira Guerra Mundial, em 25 de Julho de 1914, Jean Jaurès discursa condenando a guerra.
“O capitalismo traz a guerra como a nuvem traz a tempestade”, declarou nesse discurso.
Disse ainda que “no momento em que estamos ameaçados pela morte e pela selvajaria, a única oportunidade para a paz e a salvação da civilização é que o proletariado una todas as suas forças, franceses, ingleses, alemães, italianos, russos. Pedimos a esses milhares de homens que se unam, para que a batida unânime dos seus corações, afaste o horrível pesadelo”.
A sua luta durante dez anos pela reconciliação entre França e Alemanha, as suas opções pacifistas, defendendo a greve geral dos trabalhadores franceses e alemães caso fosse declarada a guerra, fizeram com que os nacionalistas o detestassem.
"Eles mataram Jaurès! "Este grito foi lançadona noite de 31 de julho de 1914, em Paris, na sala do café du Croissant, localizado no número 146 da rua Montmartre. No final da tarde desse dia, Jaurés foi para a sede do L`Humanité preparar um artigo para a edição de mobilização antiguerra de 1 de Agosto. Saiu para jantar no café du Croissant, com os companheiros da redação, JeanLonguet, PhilippeLandrieu, Ernest Poisson.Senta-se de costas para uma janela aberta, separada da rua por uma simples cortina. Vigiando da rua o café, onde tinha visto que Jaurès habitualmente jantava, escondido pela cortina o assassino, Raoul Villain, um ativista de extrema-direita, disparou dois tiros: a primeira bala atingiu o pescoço, a segunda perdeu-se. Jaurès morre de imediato, de uma hemorragia cerebral.
De Londres aTóquio, Bruxelas, Berlim e São Petersburgo, a morte do líder francês da Internacional dos Trabalhadores, fundada em 1889, marcou, de facto, o recolher da bandeira internacionalista que se opôs durante vários anos à guerra, desejada pelas principais nações capitalistas. Jaurès assassinado, desaparecia o ativista e principal baluarte intelectual contra o crescente risco de uma guerra. Após a morte de Jaurès, a maioria dos líderes socialistas abandona a estratégia da greve geral contra a guerra e junta-se ao governo de “União Sagrada”, com a direita. Estava aberto o caminho do confronto, que prometiam ser breve mas vai durar quatro anos, deixando milhões de mortos.
Artigo de Álvaro Arranja para esquerda.net