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Marisa quer acabar com os “falsos consensos” sobre alterações climáticas

O Fórum Socialismo 2019 arrancou esta sexta-feira à noite com intervenções dedicadas ao tema do combate às alterações climáticas. A eurodeputada bloquista Marisa Matias criticou “o vazio político” na resposta europeia à emergência climática e em particular aos incêndios na Amazónia. “Vimos a Europa a chorar pela Amazónia, mas ao mesmo tempo a apoiar o agronegócio” que tem grande peso nos acordos de comércio livre como o Mercosul.
“Bolsonaro é responsável pelos incêndios”, acusou a eurodeputada, lembrando as “promessas feitas ao agronegócio” ou o desinvestimento na fiscalização dos crimes ambientais na Amazónia. Por isso, prosseguiu Marisa, “nenhum governo na União Europeia pode achar que por chorar os incêndios da Amazónia, assim branqueia as relações indecentes que tem com o governo de Bolsonaro”.
“O que se passou na Amazónia é exemplar do vazio político nesta resposta à emergência climática”, insistiu Marisa, depois de recordar o caminho feito desde a cimeira do Rio em 1992, quando o tema das alterações climáticas entrou na agenda política internacional. Mas a expressão “sustentabilidade” então introduzida “acabou por ser encaixada de forma integral no modelo capitalista”. Por isso, “passados 40 anos, está quase tudo por fazer”.
O agravamento da crise climática trouxe o tema à agenda de partidos de vários setores, e com isso “o perigo dos falsos consensos”, alertou. “O facto de se falar muitas vezes das alterações climáticas não quer dizer que estejamos a fazer seja o que for”. Prova disso é que a menção às alterações climáticas já é feita em todas as convenções internacionais, “mas não passa disso”.
@mmatias_ fala sobre os falsos consensos para responder às alterações climáticas.#FórumSocialismo19#FazAcontecer pic.twitter.com/4HpIMFKET8
— Esquerda.Net (@EsquerdaNet) August 31, 2019
“Quero ver como cada um dos partidos que fala das alterações climáticas se posicionará na votação do tratado Mercosul"
“Este não pode ser o tempo de continuarmos nos falsos consensos”, defendeu Marisa. E uma boa oportunidade para ver de que lado está cada partido no combate às alterações climáticas surgirá quando cada parlamento na União Europeia for chamado a votar o tratado comercial Mercosul. “Quero ver como cada um dos partidos que fala das alterações climáticas se posicionará” nessa votação, desafiou a eurodeputada do Bloco.
Marisa questionou ainda o poder das multinacionais na definição das leis de cada país, “mas também nos tratados internacionais”, enquanto “continuam as suas atividades poluidoras e destruidoras de ecossistemas quase sem nenhuma limitação em todo o mundo”. Daí o fracasso da resposta política internacional, desde o início alinhada com os interesses do sistema capitalista, que passou por “atribuir valor de mercado a tudo”.
“Foi assim que nasceu a ‘economia verde’, que não é mais do que um rosto verdezinho que nada tem a ver com a defesa do ambiente”, prosseguiu Marisa, lembrando que recentemente em Portugal, “quando o Bloco andava a lutar contra os vistos gold, não só não conseguimos acabar com eles como ainda inventaram os 'vistos gold verdes’”.
Para Marisa Matias, a resposta da esquerda deve partir do princípio que “os bens comuns devem ser regulados pelo Estado e quando ultrapassam fronteiras internacionais, devem ser co-geridos pelos estados-membros”, dando o exemplo da água ou das energias renováveis.
“Temos uma década para impedir que a temperatura do planeta suba mais de 2ºC” e para o conseguir “precisamos de fazer toda a luta para garantir que esta urgência tem uma resposta”. Respostas como as que o Bloco apresenta no programa eleitoral, que passam por garantir investimento na ferrovia, acabar com o plástico de uso único, mas também “uma reconversão da indústria, uma política florestal a sério e uma política agrícola decente”, concluiu.
Timor-Leste e Miguel Portas recordados na sessão de abertura
No pontapé de saída para um fim de semana com mais de 50 painéis de debate na Escola Artística Soares dos Reis, no Porto, coube ao dirigente bloquista e candidato às legislativas pelo círculo do Porto, Adriano Campos, dar as boas-vindas aos participantes do “maior Fórum Socialismo de sempre”, destacando a coincidência da data com os 20 anos do referendo à independência de Timor-Leste e a ligação dessa luta de solidariedade aos primeiros passos do Bloco de Esquerda, fundado no mesmo ano.
Em seguida, o ator Pedro Lamares, mandatário da candidatura do Bloco no Porto, leu excertos do texto “A Voz das Praças”, escrito por Miguel Portas em setembro de 1999, logo após o referendo e a entrada da força internacional no território.
O debate que se seguiu às intervenções de Marisa Matias e João Camargo (ler notícia sobre esta intervenção) foi moderado pelo documentarista e ex-deputado do Bloco Jorge Campos.
Transmissão integral da sessão de abertura:
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