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Mario Draghi recusa abandonar grupo de lobbying bancário

O atual presidente do Banco Central Europeu pertence a um clube privado composto por representantes de grandes bancos, alguns deles supervisionados pelo próprio BCE. Draghi ignorou os apelos da Provedora de Justiça da Europa e manterá a sua presença no grupo.
Mario Draghi recusa abandonar grupo de lobbying bancário
A Provedora de Justiça destacou o secretismo do grupo e a falta de transparência sobre o conteúdo das suas reuniões. Foto de European Parliament/Flickr.

O Banco Central Europeu (BCE) veio a público rejeitar os pedidos da Provedora de Justiça da Europa para que Mario Draghi abandonasse o G30, um fórum de lobbying bancário. 

Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, foi informado pelo órgão regulador da União Europeia (UE) de que deveria deixar de ser membro de um clube secreto de banqueiros. Este pedido surgiu depois de ter vindo a público a notícia de que este clube poderá ter informações privadas que podem influenciar legislações importantes.

Após um ano de investigações, Mario Draghi foi informado na quarta-feira pela Provedora de Justiça europeia, Emily O’Reilly, de que a sua relação próxima com o grupo G30 estava a ameaçar a reputação do BCE. 

Os membros do clube privado são escolhidos por um painel anónimo de conselheiros. Destes, só é conhecida a identidade de Jacob A Frenkel, chairman da JPMorgan Chase International.

Na sua declaração pública, a Provedora de Justiça Europeia destacou o secretismo do grupo e a falta de transparência sobre o conteúdo das suas reuniões. Pediu também que os futuros presidentes do BCE fossem impedidos de aderir ao clube. Esta declaração veio na sequência de uma queixa feita pela ONG Corporate Europe Observatory. A ONG afirmava que a relação de proximidade entre Draghi e o G30 era uma infração ao código ético do BCE. 

Emily O’Reilly afirmou existir a possibilidade de a independência do banco ter estado em risco, uma vez que o G30 inclui entre os seus membros um vasto número de banqueiros do setor privado. Entre os membros está o governador do Banco de Inglaterra, Mark Carney. 

“O BCE toma decisões que afetam diretamente a vida de milhões de cidadãos. Após a crise financeira, e considerando os poderes adicionais de supervisão dos bancos públicos dos Estados-membro dados ao BCE nos últimos anos, é importante demonstrar ao público que existe uma clara separação entre o BCE enquanto supervisor e a indústria da finança, afetada pelas suas decisões”, afirmou a Provedora de Justiça. Emily O’Reilly afirmou ainda que quaisquer reuniões entre o BCE e o G30 deveriam ser tornadas públicas e os seus resumos divulgados.

A ONG Corporate Europe Observatory já reagiu às declarações do BCE. Kenneth Haar, representante da organização, afirmou que “a recusa do BCE em pôr fim à associação de Mario Draghi ao G30 vem lembrar a forma leve com que o banco lida com lóbistas bancários. Evitar reuniões secretas com representantes de grandes bancos, alguns deles supervisionados pelo BCE, deveria ser senso comum”. 

Mario Draghi, economista de formação, trabalhou anteriormente na Goldman Sachs. Durante a sua presidência do BCE, esteve presente em quatro reuniões do BCE: em 2012, 2013 e duas vezes em 2015.

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