Esta madrugada voltou a ser de ataques aéreos das forças armadas sionistas à Faixa de Gaza, sobretudo na zona centro da região. O campo de refugiados de Nuseirat foi alvo várias vezes, causando pelo menos 17 mortes, havendo ainda pessoas debaixo dos escombros destes ataques.
Cinco das pessoas assassinadas eram da mesma família, avós, filhos e netos, noticiou a Al Jazeera. Isto acontece no dia a seguir a uma reportagem da agência noticiosa norte-americana Associated Press contar a história de 60 casos em que famílias palestinianas perderam mais de 25 membros nos ataques das forças armadas sionistas. Por vezes, o mesmo ataque matou “quatro gerações da mesma família” por completo, explica a peça jornalística.
Também pelo menos nove pessoas foram mortas e várias outras ficaram gravemente feridas quando esperavam por camiões de ajuda humanitária em Rafah, ainda de acordo com a Al Jaazera. Para além de outras mortes na cidade de Gaza.
O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, comentou que estes ataques continuam a causar grande sofrimento e acrescentou que a situação na Cisjordânia e Jerusalém Oriental se está a “degradar dramaticamente”, com quase 550 pessoas a serem mortas pelos israelitas desde 7 de outubro, mostrando-se “horrorizado” pelo desrespeito pelos direitos humanos.
Revolta popular contra Netanyahu em Israel
Em Israel, a noite foi de manifestações contra o Governo. Estas juntaram milhares de pessoas e, em Jerusalém, foram atacadas pela polícia junto à residência do primeiro-ministro sob o pretexto de querer evitar que bloqueassem estradas. Oito pessoas foram detidas, três ficaram feridas. Uma delas, a médica Tal Weissbach que prestava assistência médica aos manifestantes, tem a visão em perigo.
Os manifestantes convocaram uma série de protestos denominados “semana de resistência”. Reivindicam um cessar-fogo, um acordo de troca de prisioneiros, a demissão do governo e a realização de eleições. Criticam ainda a exceção que faz com que os judeus ultra-ortodoxos escapem ao serviço militar e a nova proposta de lei, apresentada por um sindicato de estudantes de extrema-direita e apoiada no Parlamento por deputados do Likud, que fará com que as instituições de ensino superior sejam obrigadas a despedir imediatamente quem “incite” contra Israel, apoie ou terrorismo, ou “fale de maneira que possa ser entendida como negando a existência de Israel enquanto estado judaico e democrático”. No protesto, o presidente da Universidade Hebraica, Asher Cohen, considerou a lei uma “abominação” e “perigosa para a igualdade e liberdade de expressão” e igualmente para “as nossas vidas quotidianas” diz o Haaretz.
Kalanit Sharon, do grupo Pink Front, declarou no mesmo evento que “nos regimes fascistas, o governo quer manter os cidadãos em desespero. Aqueles que ficam desencorajados não irão lutar, aqueles que ficam desencorajados não irão sobreviver”-
O Pink Front, Frente Cor de Rosa, é um grupo LGBTQ+ que luta contra o governo e um dos que convocou a semana de protestos junto com o grupo feminista Construir uma Alternativa e os reservistas do Irmãos e Irmãs em Armas. Apelam a todo o espetro político, religioso e ideológico para que se junte a estes protestos não violentos e legais”.
O campo do Likud, o partido de Netanyahu, ficou ainda mais debilitado depois de um dos seus deputados, Nissim Vaturi, ter afirmado que estes manifestantes pertencem ao Hamas. Na estação de rádio Kol Brama, afirmou que “há vários ramos do Hamas – o ramo combatente de terroristas malvados que assassinam crianças e o ramo dos protestos”.
Tensão com os militares
E os protestos já tinham sido convocados num clima de instabilidade política e de tensão entre Governo e militares. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu dissolveu o gabinete de guerra que tinha vindo a supervisionar os ataques em Gaza. Depois da demissão de Benny Gantz do executivo, os aliados de extrema-direita do primeiro-ministro ocupavam nele um papel ainda mais preponderante e Netanyahu decidiu concentrar num núcleo mais duro a tomada de decisões.
Ao mesmo tempo, envolveu-se em polémica com as Forças de Defesa de Israel quando quis desautorizar a “pausa humanitária” no ataque a Gaza, negando conhecimento desta. As fontes dos militares reagiram imediatamente em declarações aos meios de comunicação social afirmando que esta tinha sido feita por sua ordem expressa.
Os sinais de desencontro avolumam-se nos últimos tempos. No sábado, em diferentes meios de comunicação social do país, “fontes” identificadas como “oficiais superiores das Forças de Defesa de Israel” ou “membros do Estado-Maior” fizeram saber que a recusa de Netanyahu em permitir a formação de uma “alternativa ao Hamas” em Gaza está a colocar em causa ou “ganhos táticos” obtidos pelas forças armadas com o Hamas a regressar a zonas que já tinham sido conquistadas.
O recrutamento dos jovens judeus ortodoxos é outro ponto de discórdia com o chefe do Estado-Maior, Herzl Halevi, a declarar publicamente que os jovens Haredi devem ser alistados contra a posição de Netanyahu, que depende dos partidos extremistas ortodoxos. O mesmo fez chegar à imprensa declarações em reuniões privadas onde defende um acordo com o Hamas para a libertação dos reféns. Aliás, o seu porta-voz, Daniel Hagari, disse abertamente enquanto o primeiro-ministro celebrava a libertação de alguns reféns a semana passada que a libertação dos restantes teria de ser feita através de um acordo.
As preocupações dos líderes militares estão longe de serem humanitárias, descreve Anshel Pfeffer do Haaretz, uma vez que a sua tese é de que é preciso acabar a guerra em Gaza para tratar da escalada do conflito com o Hezbollah a norte.
Já Netanyahu continua com o discurso de que “não há alternativa à vitória” e de que a guerra só pode acabar com a destruição total do Hamas. Assume a disputa com os militares dizendo que “somos um Estado que tem um exército, não um exército que tem um Estado”.