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Livro denuncia abusos de selecionador de futebol feminino espanhol

"Precisas é de um bom macho" é apenas um exemplo do tipo de linguagem que Ignacio Quereda utilizava ao dirigir-se às jogadoras. As denúncias dos insultos, das humilhações e as acusações de assédio sexual foram abafados pela Real Federação Espanhola de Futebol.
Foto de ANDRE PICHETTE, Epa/Lusa.

O livro da jornalista Danae Boronat, intitulado No las llames chicas, llámalas futbolistas (Não as chames miúdas, chama-as futebolistas), reúne relatos de dezenas de jogadoras e ex-internacionais sobre Ignacio Quereda, selecionador de futebol feminino espanhol durante 27 anos, entre 1988 e 2015.

Na obra, citada pelo Diário de Notícias, Vero Boquete, a maior referência atual do futebol feminino espanhol, dá um exemplo do tipo de linguagem que Ignacio Quereda utilizava ao dirigir-se às jogadoras: "Precisas é de um bom macho".

 

"Uma vez, estávamos sozinhos no elevador e deu-me um beliscão no rabo. Não soube como reagir. Tinha 17 anos, era muito tímida, ainda não tinha saído de casa. Como vinha de uma aldeia ele dizia-me "sabes como fecundam os galos e as galinhas?" e beliscava-me.", recorda, por sua vez, a jogadora Alicia Fuentes.

Marta Corredera descreve como o selecionador lhe levantava frequentemente a camisola com a desculpa de querer ver o seu piercing e a antiga guarda-redes Ainhoa Tirapu recorda como Ignacio Quereda fazia comentários sobre o seu decote. "Ele humilhava-nos, aquilo era a sua coutada de caça", aponta Laura del Río. As jogadoras choravam várias vezes no quarto, sem saber como reagir ao assédio.

O selecionador também não se coibia de fazer discursos homofóbicos: "’Quero erradicar o lesbianismo e os maus hábitos!’, dizia ele. Houve um artigo em que algumas jogadoras assumiam a sua homossexualidade e ele deu a entender que se expusessem a sua condição sexual publicamente podia haver consequências desportivas", relata Vicky Losada, capitã do Barcelona.

Uma jogadora, que acabou por abandonar a seleção perante tais comportamentos, revela que Quereda entrava no balneário quando as jogadoras se estavam a vestir ou a tomar banho e que chegou a interromper um exame médico.

Conforme escreve Danae Boronat, em 1996, um grupo de jogadoras denunciou o selecionador nacional, mas sem qualquer consequência, já que a Real Federação Espanhola de Futebol terá sido conivente com as práticas de Ignacio Quereda.

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