A carta, que divulgamos na íntegra em português (ver abaixo), foi publicada esta sexta-feira no “New York Times”. Trata-se de uma iniciativa do Centro Memorial Luther King e das organizações The People's Forum e Codepink com o objetivo de “mudar a política imoral e míope dos Estados Unidos face a Cuba” e “proporcionar medicamentos e produtos médicos muito necessários para o povo cubano”.
“Parece-nos inconcebível, especialmente durante uma pandemia, bloquear intencionalmente as remessas e o uso de instituições financeiras globais por parte de Cuba, visto que o acesso a dólares é necessário para a importação de alimentos e medicamentos”, salienta a carta.
O documento é subscrito por 440 personalidades mundiais, onde se incluem os atores e atrizes Danny Glover, Jane Fonda e Susan Sarandon, o cineasta Oliver Stone, os académicos Noam Chomsky, Frei Betto e Atilio Borón, os ex-presidentes Lula e Rafael Correa. A lista completa das pessoas que subscreveram a carta está disponível em https://www.letcubalive.com/
“Quando a pandemia atingiu a ilha, o seu povo e o seu governo perderam milhares de milhões em receitas do turismo internacional que normalmente iriam para o sistema público de saúde, distribuição de alimentos e ajuda financeira”, refere a carta, que lembra que a 23 de junho a maioria dos Estados membros das Nações Unidas votaram para pedir aos EUA o fim do embargo, como acontece há 30 anos.
Lembrando que Joe Biden, no dia 12 de julho, manifestou o seu apoio ao povo cubano, a carta pede: “Se for esse o caso, pedimos que assine imediatamente uma ordem executiva e anule as 243 ‘ações coercitivas’ de Trump”.
Caro Presidente Joe Biden
É hora de trilhar um novo caminho nas relações entre os Estados Unidos e Cuba. Nós, abaixo assinados, fazemos-lhe este urgente apelo público para que rejeite as políticas cruéis implementadas pela Casa Branca de Trump, que criaram tanto sofrimento entre o povo cubano.
Cuba, um país de onze milhões de habitantes, vive uma crise difícil devido à crescente escassez de alimentos e medicamentos. Protestos recentes chamaram a atenção do mundo para isso. Embora a pandemia Covid-19 se tenha mostrado um desafio para todos os países, foi-o ainda mais para uma pequena ilha sob o peso de um embargo económico.
Parece-nos inconcebível, especialmente durante uma pandemia, bloquear intencionalmente as remessas e o uso de instituições financeiras globais por parte de Cuba, visto que o acesso a dólares é necessário para a importação de alimentos e medicamentos.
Quando a pandemia atingiu a ilha, o seu povo e o seu governo perderam milhares de milhões em receitas do turismo internacional que normalmente iriam para o sistema público de saúde, distribuição de alimentos e ajuda financeira.
Durante a pandemia, o governo Donald Trump endureceu o embargo, colocou de lado a abertura de Obama e lançou 243 "medidas coercitivas" que intencionalmente estrangularam a vida na ilha e criaram mais sofrimento.
A proibição de remessas e o fim dos voos comerciais diretos entre os Estados Unidos e Cuba impedem o bem-estar da maioria das famílias cubanas.
“Apoiamos o povo cubano”, escreveu o senhor em 12 de julho. Se for esse o caso, pedimos que assine imediatamente uma ordem executiva e anule as 243 "ações coercitivas" de Trump.
Não há razão para manter a política da Guerra Fria, que exigia que os Estados Unidos tratassem Cuba como um inimigo existencial e não como um vizinho. Em vez de continuar o caminho traçado por Trump nos seus esforços para desfazer a abertura do presidente Obama a Cuba, pedimos que siga em frente. Retomar a abertura e iniciar o processo de encerramento do embargo. Acabar com a grave escassez de alimentos e medicamentos deve ser a prioridade.
Em 23 de junho, a maioria dos estados membros das Nações Unidas votou para pedir aos Estados Unidos o fim do embargo. Nos últimos 30 anos, esta tem sido a posição constante da maioria dos Estados-Membros. Além disso, sete relatores especiais da ONU escreveram uma carta ao governo dos Estados Unidos em abril de 2020 sobre as sanções a Cuba. “Na emergência da pandemia”, escreveram eles, “a relutância do governo dos Estados Unidos em suspender as sanções pode levar a um risco maior de sofrimento em Cuba”.
Pedimos que acabe com as "medidas coercitivas" de Trump e voltem à abertura de Obama ou, melhor ainda, comecem o processo de fim do embargo e normalização total das relações entre os Estados Unidos e Cuba.
Tradução para português por Brasil de Fato, adaptado a português de Portugal por Carlos Santos para esquerda.net