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Justiça francesa quer pena “exemplar” para Ikea por vigiar trabalhadores

Procuradora quer enviar uma "mensagem forte" destinada a "todas as sociedades comerciais". A acusação requereu uma pena de dois milhões de euros e um ano de prisão efetiva para um dos antigos dirigentes da Ikea France.
Foto de tom.arthur, Flickr.

O julgamento de antigos executivos da Ikea France e da própria multinacional, sob a acusação de espiarem a vida privada de centenas de trabalhadores, começou na segunda-feira. O escândalo foi revelado há oito anos pelo Mediapart e pelo Le Canard Enchaîné. Entretanto, a justiça francesa abriu uma investigação na sequência da queixa legal formalizada pelo sindicato Force Ouvrière.

A Ikea France é acusada de ter criado um "sistema de espionagem" para recolher informações sobre a vida privada de centenas de trabalhadores e de potenciais pessoas a contratar, bem como de clientes. As informações diziam respeito, nomeadamente, a antecedentes criminais, ao modo de vida e ao património dos alvos.

Entre as quinze pessoas envolvidas no processo encontram-se ex-gerentes de lojas e altos executivos, como o ex-CEO Stefan Vanoverbeke e o seu antecessor, Jean-Louis Baillot. Sentam-se ainda no banco dos réus quatro policias, acusados de entregar informações confidenciais. As acusações incluem a recolha ilegal de informações pessoais, o recebimento de informações pessoais recolhidas ilegalmente e a violação do sigilo profissional. O tribunal francês está a investigar as práticas da Ikea entre 2009 e 2012, mas os promotores defendem que as mesmas começaram quase uma década antes.

Esta quarta-feira, a procuradora Paméla Tabardel requereu três anos de prisão, um dos quais com pena efetiva, para Baillot, que dirigiu a empresa entre 1996 e 2009. "Desejo uma pena que marque a vida de Jean-Louis Baillot", frisou Tabardel, citada pela AFP. A responsável apontou que a "política iniciada" por Baillot afetou a vida de cerca de 400 trabalhadores, que foram alvo de "investigações privadas".

Em causa está a "proteção das nossas vidas privadas em relação a uma ameaça, a da vigilância em massa", fisou a procuradora perante o Tribunal de Versalhes. Tabardel quer que seja enviada uma "mensagem forte" destinada a "todas as sociedades comerciais”.

O responsável pela segurança da Ikea à época, Jean-François Paris, foi o único dirigente a admitir os "controlos massivos" dos trabalhadores. A procuradora pediu que Paris, que reiterou ter obedecido a ordens de Jean-Louis Baillot, fosse condenado também a uma pena de três anos de prisão, com um ano de prisão efetiva.

Jean-François Paris informava a Eirpace, dirigida par Jean-Pierre Fourès, sobre a lista de pessoas a investigar. Fourès, que pertenceu ao serviço de informações da polícia, é acusado de ter obtido ficheiros policiais. A procuradora requereu que fosse condenado a um ano de prisão efetiva.

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